Mineiridade

“Que Minas é um Estado sem mar, todos sabem. Que os mineiros não se conformam com isso, também todos sabem.

Que as montanhas de Minas são azuis, todo mundo sabe. Que seus rios sabem cantar, também todos sabem.

Minas é cantada e (de)cantada por seus poetas e escritores. O jeito do mineiro falar é analisado e criticado por todos: engolimos sílabas e letras, somos pães duros até para falar.

“Mineiro não gosta de carnaval, gosta de procissão” – é outra frase feita.

Mineiro é desconfiado, é esperto, é duro na queda. Mineiro não como banana pra não jogar a casca fora...

Mineiro é caipira. Mineiro não olha – espia. Mineiro não decide – vive em cima do muro. Político mineiro é raposa. E por aí vai...

Agora, escutei outra novidade sobre nós: “mineiro tem cheiro de sacristia”.

- Como assim?

Meus amigos cariocas explicaram. Eu até concordei. Em nossas conversas, eles dizem que “entre um uai e outro uai”, eu sempre digo:

- - Fica com Deus! Vai com Deus!

Ou:

- Se Deus quiser!

- Deus te abençoe!

- Deus lhe pague!

- Que bênção!

- C(u)ruz Credo!

- Nossa Senhora!

- Ave-Maria!

- Santo Deus!

- Sagrado Coração!

- Santíssimo Sacramento!

- Tenha a santa paciência!

- Deus me perdoe!

- Jesus Cristo Sacramentado!

- Deus te proteja!

- Nossa Senhora das Graças!

Pois então. Tudo isso as Gerais falam no dia-a-dia. E meus amigos completam:

- Sua voz tem voz de sino. Em vez de falar, você canta. Mineiro fala cantando...

E eu de cá:

- Credo em cruz!

Os amigos riem, lá de longe, chiando nos erres e esses...

- Mineiro tem cheiro de sacristia...

Sem pensar, despeço-me:

- Um beijo! Fica com Deus!

Ainda ouço a voz da amiga:

- Você não fala, canta! Com voz de sino!

E eu arremato:

- Benzodeus!”

Esta crônica da mineira Maria foi publicada no Jornal O Lutador nº 3545 de abril/2006. Concordo com QUASE tudo e acrescentaria ainda muitas outras expressões. Mas deixo todo o charme por conta dessa grande escritora, UAI!