O PODER DA MENTE

“Quando você olha atentamente para algo, por um longo tempo, descobre coisas invisíveis para os outros. A maioria das pessoas comete o erro de tentar ver algo muito especial, quando na verdade se trata apenas de descobrir aquilo que já é evidente”.

(Rabbi Shelono Bem Yitzhaki)

Esse relato é sobre um acontecimento incomum, verídico, ocorrido há muito anos atrás. Na época, não havia televisão, as pessoas contavam com poucos aparelhos eletrodomésticos. Os raros carros existentes eram importados. As roupas eram feitas pelos alfaiates e costureiras. As opções culturais eram o cinema, rádio.

Muito embora, não ter presenciado e fato que vou narrar, ele foi vivenciado por meu pai e depois relatado a mim. Meu progenitor era uma pessoa inteligente, honesta e respeitada, que adorava conversar com seus filhos. Não obstante, ser um homem ocupado, papai sempre arrumava tempo para estar junto da família e gostava de falar sobre fatos marcantes da vida. Lembro-me como se fosse hoje, ele sentava no sofá rodeado pelos quatro filhos. Logo, minha mãe providenciava café e bolinhos para todos. Aí, iniciava seus "causos", ou senão, lia contos de uma coleção intitulada “O mundo da juventude”, que pegava na estante da sala.

Uma noite, contou-nos um acontecimento ocorrido na sua adolescência, o qual, passo agora para vocês. Meu avô era pequeno sitiante e tirava o sustento de sua família por meio da venda de leite realizada diretamente ao público consumidor, na porta de sua casa. O leite era obtido pela ordenha de algumas vacas de sua propriedade rural. Por mais de 40 anos exerceu essa atividade.

Um dia, chamou meu pai e disse assim: "sua mãe e eu, vamos para o sítio e voltaremos somente amanhã à tarde". Portanto, não estaremos aqui de manhã para vender o leite para a freguesia. Lembre-se de levantar cedo, abrir o latão de leite e coá-lo. Depois abra o portão, conforme o costume, para as pessoas poderem entrar e assim adquirir o produto. Não se esqueça, que passado o horário habitual, não adianta abrir o portão. Pois, nossos fregueses são impacientes e irão procurar leite em outro lugar. Pode deixar, respondeu ele: "levantarei bem cedo". Por outro lado, minha avó recomendou sua ajudante, que cuidasse da casa e desse uma “mãozinha” para meu pai até a sua volta. Essa senhora, era uma negra que atendia pela alcunha de Dona Ana.

Na manhã do dia seguinte, meu pai que na época era adolescente. Só conseguiu acordar depois das 11 h da manhã. Logo a venda do leite daquele dia estaria perdida. Portanto, todo aquele produto iria direto aos porcos, mais de cem litros desperdiçados. Então, ele ficou inconsolável, chorando dizia: quando papai e mamãe voltarem do sítio, vão ficar bravos comigo e com razão. Além do medo, uma frustração muito grande por não ter correspondido às expectativas familiares, atormentaram sua cabeça.

Dona Ana, que estava ao lado, placidamente olhou para ele e falou: "fique calmo menino, que tudo vai se ajeitar, você pode começar a fazer os preparativos". Vamos vender todo leite, você vai ver! Sua fala era pausada, firme e emitida com convicção sem aparentar dúvidas. Após dizer isso, saiu da sala e encaminhou-se para cozinha. Meu pai estranhou o jeito que ela disse aquelas palavras e seguiu-a. Quando chegou à porta, ela estava próxima ao fogão de lenha, de joelhos, rezando. Pouco instantes após, bateu na porta da casa uma pessoa querendo comprar leite, depois outra mais, mais outra. Enfim, pouco tempo depois, todo o leite tinha sido vendido.

Dona Ana era um ser humano respeitado e amado por todos na casa e também pelos vizinhos. Apesar de analfabeta, era parteira, benzedeira e grande cozinheira. Jamais perdeu a paciência. Gostava de ir à igreja aos domingos, mas também, não abria mão do centro de umbanda nas quartas-feiras. Tive pouco tempo de convivência com ela, pois veio a falecer quando era ainda garoto. Todavia, pude aprender muito com seus conselhos, principalmente a ter fé e firmeza de propósitos.

Todos nós, já ouvimos falar do poder da mente. Entretanto, mesmo tendo ciência de fatos semelhantes ao que acabamos de narrar, não atinamos que toda ação tem seu inicio na mente. Bons pensamentos resultam em ações proveitosas. O contrário também é verdadeiro. Pensamento negativo atrai coisas negativas e assim por diante.

Notadamente, para que se possa desenvolver essa faculdade mental, tem-se primeiramente que acreditar nela. Também essa, como qualquer outra atividade humana, é fundamental o treinamento. Como dizia James Allen em seu livro: “O cultivo de flores e frutos pelo jardineiro, requer a limpeza de ervas daninhas e outras pragas. Assim também o homem deve limpar os pensamentos daninhos, inúteis e impuros. Para poder cultivar com perfeição as flores e frutos oriundos de pensamentos corretos, úteis e puros”...!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 24/07/2010
Reeditado em 24/08/2012
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