Para onde ir?

Para onde ir?

Nunca antes os tempos foram tão incrivelmente permissivos para o homem. Estamos em uma época que o homem pode ser, pensar e agir da forma que quiser e achar melhor. Infelizmente nessa época de liberdades extremas o homem se encontra cada vez mais perdido e sem saber o que fazer, será que ao permitir que o homem seja o que ele quiser nossa época tocou o ponto fundamental da questão? O homem nunca soube o que queria ser ou fazer, era apenas um joguete nas mãos dos desdobramentos temporais e quando finalmente tem a oportunidade de se construir não sabe usar suas ferramentas.

Nunca antes o tempo foi tão fraco em termos ideológicos quanto agora. Temos a ideologia capitalista? Ela já se mostra enfraquecida. Temos as doutrinas religiosas? Quem mais pode aceitar verdades dogmáticas impostas sem um mínimo de razão? Temos a unicidade egocêntrica do indivíduo? Quem não consegue perceber a total catástrofe que se prenuncia diante de nossos olhos pelo egocentrismo humano?

De todas as perguntas uma só resposta se levanta e se faz escutar. TODO O MUNDO!

Nunca antes tivemos tanta possibilidade de esclarecermos nossas diretrizes. Olhar o mundo com olhos críticos e enxergarmos as grosseiras trapalhadas feitas pela raça humana ao longo de toda sua história, a nossa história. Quem não vê sua própria história não consegue continuá-la. Que rumo temos? Nunca tivemos tanta liberdade e tão pouco fazemos dela.

Nossa sociedade não tem rumo, não está indo a lugar nenhum. Há uma lacuna ideológica gigantesca pela falta de capacidade dos homens de se acharem por aqui., por lá e acolá. Estamos rodando no mesmo lugar, tendo filhos, vivendo e morrendo sem aparente rumo e destino algum. A religião já não responde mais aos anseios do homem moderno, a fé descabida já não vale mais como meta de vida, pode fazer as vezes de remédio para a endemia espiritual, mas como todo remédio ele alivia os sintomas não combate as causas.

A ciência nunca pretendeu dar rumos à vida de ninguém. Ela constata fatos, verdades e mentiras. A verdade cientifica não depende da vontade de ninguém, não é o certo nem o errado é o real. Ela mede, pesa, constata. O peso não é bom nem mau ele é simplesmente o peso. As verdades cientificas são amorais. Aplicadas às tecnologias elas passam a ter pretensões ideológicas. Einstein e suas teorias são amorais, a bomba atômica é ideológica. O homem nunca teve tanto conhecimento e tão pouca sabedoria.

Vide os gregos que com o parco conhecimento que conseguiram desenvolver tinham mais sabedoria que nossa atual sociedade atulhada de especificidades sem sentido. Qual modelo de nossa sociedade? Infelizmente ainda sofremos o impacto gigantesco da midiatização da vida. Onde o véu é mais interessante que o que ele reveste. Mal percebendo que qualquer vento leva o véu para longe e nos deixa desnudos e fracos diante da realidade que nos é imposta, pois não vivemos fora da realidade, vivemos nela a cada momento, minuto e segundo.

O tempo? O tempo que nos resta é esse, esse indivisível agora que trabalha a todo momento por nos fazer crer num passado e projetar um futuro. Creia no passado agora e projete o futuro agora. Não viva o futuro amanhã nem sonhe com o passado ontem. Tanto o passado quando o futuro são partes integrantes de um momento único chamado, agora.

Por caminhos tortuosos e conflitantes a sociedade caiu na própria armadilha criada. Esclareceu-se demasiadamente. Não suportando a própria clareza preferiu olhar para o lado que para a luz criada. Tombando e sem saber para onde ir ofuscado pela possibilidade esclarecedora que conquistou.

Veja o exemplo de Estamira (filme nacional recentemente veiculado no circuito brasileiro) ela é o exemplo vivo da descrença total, sem saber para onde ir. Quem perde sua fé, para onde vai? Não há mais Deus no céu, a ciência nada mais é que medidas e conjecturas factuais, nossa vida carece de sentido. Carece? Carece porque queremos um sentido. Única e exclusivamente. Não aceitamos que a realidade é a realidade e basta. Queremos algo a mais. Queremos mais que uma flor. Podemos cheirá-la, cortá-la, dá-la de presente, recebê-la, sonhá-la, podemos criar poesias com mil significados em analogias. Mas nunca nos contentamos com ela só. Uma flor é uma flor. Importa o que pensemos, queremos, desejamos dela? Muito pouco, quase nada!

A sabedoria estaria por aí, aqui, ao nosso lado, lá longe, em todo e qualquer lugar. Ela não seria alcançável, a sabedoria é. Aceitarmos o fato e não o descobrirmos ou acharmos. Há de ser triste quem se contenta com a flor, o cão, o vento, o calor, o frio? Creio pouco nisso. Muito pouco para o ser humano? E quem mais além dos mais sábios conseguem se contentar com o pouco? Qualquer medíocre pode querer se contentar com muito, é o mais fácil, mais ridículo. Contentar-se com o pouco, sem desejar ardente e sofregamente o muito, daí resulta a sabedoria.

Mas desviamos por demais de nosso ponto. Nessa época o homem não sabe para onde ir, porque lhe falta uma pequetita capacidade reflexiva. Quem usa pouco um órgão acaba atrofiando a sua função, o processo e todas os efeitos que dele decorrem. Somos esses homens, atrofiados humanamente, sábios midiaticamente e tentando viver aos trancos e barrancos sem irmos para lugar nenhum.

A vida é difícil, muito. Amar é difícil? Demais. A sabedoria algo pouco alcançável? Muito mais que imaginemos, se não estaríamos jeitos de sábios pelo mundo. Alguns podem até se achar, mas por esse motivo mesmo já desconfio de que são de fato. Quantas mentes pretensiosas? Escritores, cineastas, pregadores, cultistas, artistas...

Cheios de suas pretensões não terminam por percebem sua total inserção nesse mundo sem pé nem cabeça, sem sentido. Que basta escrever sobre um mundo sem sentido? Que basta esculpir, desejar ou pintar o non-sense? Que ajuda pregar em meio aos perdidos? Tentar dar um caminho? Estamos na época do esclarecimento, não científico, religioso ou informacional, mas sim do homem, que pela primeira vez tem a chance de ser muito mais ele do que em qualquer outra época. Cabe a nós superarmos o medo de nos encontrarmos, de nos conhecermos e vermos que não passamos de mais alguma coisa circulando sem razão pelo globo. Enquanto tivermos essa sensação de impotência em relação a descoberta que façamos sobre nós mesmos, continuaremos sem rumo, perdidos, cada vez mais fantasiando, imitando, inseridos em um mundo virtual de peitos, bundas, silicones e máscaras. Não que isso seja ruim, mas é muito mais sofrível.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 14/09/2006
Código do texto: T240219
Classificação de conteúdo: seguro