Filhas...

Numa manhã de céu cinzento e sol morno, seguia a passos rápidos para mais um dia de trabalho. Pessoas apressadas, num indo e vindo constante, passavam por mim como seres estranhos num mundo de línguas diferentes. De repente, ouço uma voz feminina chamar: - “ Pai..., Pai !!! ” . Pensei não ser comigo e continuei meu caminho, mas novamente a voz insistiu: “Pai..., Pai !!! ” . Decidi reduzir meus passos. Olhei para trás, para os lados e... nada ! Procurei nos olhares dos transeuntes a possível autoria daquele chamado, daquela suave voz, porém, sem sucesso. Qual o quê, ninguém correspondia. Nem um gesto mínimo que pudesse acender uma esperança. Este fato me arremeteu ao passado. Seriam resquícios de uma lembrança a muito adormecida ? Num lampejo de saudade, busquei as imagens de minhas filhas, hoje tão distantes, trilhando caminhos diferentes por vontades próprias. Um longo filme, num breve espaço de tempo rodou na minha mente. Do momento mágico do nascimento de cada uma à primeira infância. Da adolescência à efervescência da juventude precoce. Em segundos me tornei protagonista. Viajei por todas as cenas. Quantos momentos felizes. As primeiras palavras, os primeiros passos. Os tchaus, os beijinhos, as primeiras gargalhadas... tudo era pureza e poesia. O tempo passa, as pessoas queridas passam, vão com ele. Se o tempo não volta, as lembranças voltam e trazem a dor da saudade e as lágrimas sentidas. Só nos resta o consolo do sentimento do dever cumprido. Ter filhas, amá-las e ser amado por elas é um presente Divino.