pensando e escrevendo dentro do meu coração...

quando acordo só, descalço de emoções, elejo o dia como companheiro destemido das luzes que há em mim e vêm de ti.

...como ante estreia do sol de inverno que aquece a flacidez da carne por volta das onze da manhã...

depois de erguer a preguiça e levantar o corpo da horizontalidade descansada, penso em ti e no pensamento atrevido.

...matando-me com o teu olhar, como se ele fossem balas de desejo e a vida parasse expectante do que possa acontecer.

de pé, olhando-me ensonado e olhos ramelosos, alongo os lábios e descubro o marfim dentário que a escova e o dentífrico vão ginasticar de alto a baixo.

quando o duche me baptiza e o corpo é moldado pelas mãos da ensaboadela estou pronto para a molha derradeira em que o prazer do duche é eternizado.

barba, cabelo, desodorizante, água de colónia, tudo com a simetria do hábito sequenciado no ritmo do relógio, sincopado pela rádio que debita noticias na loucura dos ritmos matinais.

quando por fim concluo o rito matinal, enfeito-me com os caprichos da sociedade e avanço para ela, ciente de que mecanizo o homem e hipoteco a frontalidade nos conceitos dum status que, falsamente, se diz vanguarda e que no íntimo escraviza o homem no conservadorismo da falsa nova retórica.

(07.12.2005 - 13.47 h

a manhã já lá vai...

escrito, pensando nela, no pós almoço, com os olhos

diante das lembranças e elas vestidas de negro...)