Desigualdade Social.

Não a todos os que se acham grandiosos, aos orgulhosos, bons cidadãos, respeitados pais de famílias, trabalhadores contumazes, ferozes capitalistas e investidores de bolsas de valores.

Aos que se vêem refletidos no espelho do banheiro pela manhã, e vão logo dizendo: aí vai um grande homem, um cidadão benemérito, um distinto e visado homem em todos os termos da palavra!

Não aos cheios de si, aos influentes e engomados, aos mesquinhos e falastrões, aos ricos, milionários, otários, magnatas e burocratas!

Não a tudo que diz respeito a esse tipo de gente, essa gente que não se diz “da gente”, que não respeita a gente, que vive na ilusão do melhor lucro, da receita mais vantajosa, do capital investido, dos jantares, dos licores, dos cocares e dos choferes.

Não aos que cantam de galo antes da hora, aos que não se preocupam com o próximo, aos que só visam a glória e o poderio financeiro.

Não aos que se acham melhores que todos, que se acham, que possuem as melhores coisas e possibilidades, iates, piscinas, conversíveis e investimentos, aos bebedores de uísques duzentos anos todas as noites após o caviar.

Não aos que sabem tudo e de todos, aos fuxiqueiros, aos que sempre venceram na vida, aos que foram aprovados em todos os tipos de provas exames, e se gabam disso.

Não aos poderosos, líderes, governantes, chefes e patrões; não a tudo isso e a um pouco mais!

Não a todos aqueles que se esqueceram que a comunhão entre os povos é a única maneira de mantermo-nos dignamente habitando este planeta, que sucumbe agonizante!

A todos aqueles que avaliam as pessoas pelo que possuem, não pelo que realmente são!

Aos que pisoteiam os desprovidos de todas as formas, como se fossem seres inferiores!

Não a você que lê isso agora e que está achando tudo uma grande babaquice escrita por quem se justifica por não ser igual a você!

Sim aos fracos, desgraçados, desregrados, desprovidos, viciados e desvalidos!

Sim aos humilhados, pobres, desnutridos, problemáticos e indigentes!

Aos que fraquejaram antes da hora, que desistiram, cansaram, desmaiaram!

“Aos que se abaixaram antes da hora do soco surgir”.

Aos que fugiram covardemente!

Sim aos sem nada, aos que se arrastam pelo lado esquerdo da vida, aos sem escolhas, aos caminhantes de vielas perdidas!

Sim a todos os desrespeitados, criticados, despejados e achincalhados!

Sim aos puros de coração, aos que não tem imaginação porque não se alimentaram corretamente na infância, aos sem malícia, aos bons!

Sim àquele cidadão que um dia vi cantarolando uma canção deitado num beco sórdido da Rua Augusta, numa noite chuvosa, negro, idoso, doente, faminto e coberto por papelões, murmurando palavras desgastadas, em peito arfante, externando aos berros esse sincero sentimento, que ecoava pela vastidão das ruas vazias:

“...Viver é melhor que sonhar...

Eu sei que o amor é uma coisa boa...

Mas também sei que qualquer canto...

É menor do que a vida de qualquer pessoa...

Por isso, cuidado, meu bem, há perigo na esquina...”

Cristiano Covas, 27.01.05.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 30/07/2010
Código do texto: T2407916