Piquenique

Era a pré-história: ouvia-se apenas rádio AM ou ondas curtas, discos eram “long plays” ou suas versões econômicas com, no máximo, quatro músicas. Nem todos tinham geladeira, nem fogão a gás. Aparelho de TV, apenas em poucas casas, sempre com antenas imensas para captar aqueles chuviscos todos. Inacreditável, mas a maioria ainda conhecia, por ouvir falar, os computadores pelo pomposo nome de cérebro eletrônico. Ia-se ao cinema como um programa especial e os filmes eram comentados nas ruas.

Namorava-se na praça, sim senhor, e os mais velhos comentavam os namoros dos jovens considerando tanto a conduta de cada um dos namorados quanto sua condição social (“Quem casa quer casa”) e a religião, pois nem sempre casamentos interconfessionais eram muito bem aceitos.

Havia ritos de passagem: as moças debutavam para serem apresentadas à sociedade, e, na igreja luterana, a Confirmação era o passaporte para a vida com responsabilidade.

Balada, bem, creio que nem a palavra existia, mas limitava-se a inocentes domingueiras e bailes de comportamento vigiado.

Decididamente, era a pré-história. Depois veio o desenvolvimento! E muita coisa perdeu a graça, pois a facilidade que a tecnologia traz e a revolução nos costumes, em sua bagagem de benefícios, também trouxeram a preguiça aos sabores e aos olhares. Juntamente com a pressa em aproveitar tudo, desenvolveram o tédio arrogante para com tudo que não seja avançado, rápido e superficial. Parece que a humanidade passou das trevas à luz em um passe de mágica e tudo o que passou, passou para sempre.

E mataram os piqueniques! Uma toalha ou cobertor, alguns sanduíches, frutas, suco ou refrigerante (gazosão de framboesa, até) e um lugar com alguma grama, ao menos uma árvore e, se desse, um riacho ou uma fonte. Família ou amigos ou ambos, histórias para contar e, se fosse mais gente e o espaço o permitisse, brincadeiras. Crianças, adolescentes, adultos, todos participavam enquanto os mais velhos observavam, comentavam e riam.

Simples assim, sem grandes planejamentos e equipamentos. Somente olhos para ver e espíritos para curtir os bons momentos que a vida nos dá de presente sem saber que não dá para viver sem a tecnologia.