De Ironias e Tragédias.

É uma época em que falta-me tudo: dinheiro, principalmente, cerveja e esperança... Aliás, coitados dos que não possuem um prato! Um prato penoso sequer para aplacar a dor da fome!

Por absurdo que seja, o duro de todo hoje é a agrura do amanhã.

Ando tão sem inspiração. E pronto! Acho que a falta disso que chamam inspiração não diz nada com nada.

Acho também que tantas coisas andam sem mim, e que, no entanto, acabo pensando que fazem faltam sem eu. Mas que nada! No fundo nem sabem que existo. E, mesmo assim, mesmo que o soubessem, nada disso lhes faria falta. É uma incongruência atrás da outro, uma verdadeira aberração da lógica dos homens.

E mais uma vez lhe pergunto: alguma coisa a dizer? Perceba que o que você realmente tiver que dizer que o seja do fundo de teu intestino, do âmago mais anômalo, de algo que de certa forma você não compreenda, mas que, pelo amor de deus, diga!

Digo sim! E digo me calando sobre o que você sempre quis ouvir, porque me basta o bastante que porventura lhe bastar!

Quero por fim fugir para onde jamais me encontrarão, onde as rosas sempre florescerão, mesmo que outono, inverno ou sexta feira treze, não importa, anseio apenas por construir meus jardins de paraísos artificiais de opiácios e outras substâncias banais.

Saiba que morri em outras eras, naquelas em que Augusto, o dos anjos, jamais sonhara morrer, nem tive irmãos que se propusessem a pagar-me a passagem para o além-mundo. E nunca me cantaram amém, mesmo que deus garantisse-me a proteção.

Mesmo assim, insisto: alguma coisa mais a dizer?

Não se apoquente quando os teclados insistem em teclar. Afinal, uma tragada a mais no cigarro não vai mesmo lhe garantir que se viva menos...

Aliás, se o cigarro fede tanto no cinzeiro, imagina nos pulmões, onde tudo e hermético?

De qualquer forma, como forma de resposta, o cigarro acaba por satisfazer o fumante que o traga, fazendo dele um pilantra, um pilar sem lar, sem altar, sem mar..., na pura e simples desesperança do tragar, do puro e simples tragar...

E agora?

Acendo outro ou espero que aquele fumado me aniquile de vez? Sei que José se foi, por isso não o indago. E agora? E agora Eu e outros Eus? Eu, Deus e meu motor a milhão, num turbilhão de ilusão vã e desesperança nossa desta sexta treze, turbinado feito um peregrino cão sarnento vacante em sua mísera vida de cão.

Espero apenas que as rimas que rumam minha vida de hoje não enforquem minha vida de amanhã!

Sento-me no interior do Brasil esperando novo momento de votação. Quero mais uma vez ser cidadão. Estão me ouvindo? Estou aqui perante todos vocês que insistem em taxar-me desgraçado. Saibam por tudo que o amanhã sempre nascerá, independentemente de vocês ou eu, o amanhã sempre nascerá, e não vale a pena viver normas contrárias a nossas próprias essências. Afinal, somos ou não restolhos de poeiras estelares?

Queiramos ou não o sol nascerá brilhante num dia em que talvez não estejamos mais aqui, e aí? E daí? Dói como a primeira injeção.

E se por acaso alguém lhe parasse na rua e lhe pedisse para consumir um pedacinho, um pedacinho apenas, de tua vida? O que você, do fundo de tua alma, diria? Diria talvez para que dividisse ao menos a metade e te deixasse a outra? Ou se recusaria sob a alegação de que tua vida é tudo o que tem e que não poderia de forma alguma dividi-la com alguém?

Cristiano Covas, num dia qualquer...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 04/08/2010
Código do texto: T2417566