POR QUEM OS SINOS DOBRAM

“A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.(John Donne- poeta inglês- sec.XVII)

O grande romance de Ernest Hemingway, prêmio Nobel de literatura aborda o tema de um conflito armado durante a guerra civil espanhola. Ao lado da insanidade coletiva dos tempos de guerra, retrata o amor de um homem e uma mulher e seu efeito transformador. Esse livro, também foi para as telas com o título homônimo ao do livro: “Por QUEM OS SINOS DOBRAM.”.

Assim, aproveitei o título como gancho para discutir alguns aspectos da violência, um problema crônico que aflige a todos, em todo mundo. Passados tantos anos da primeira edição do livro, os combates sangrentos persistem e têm aumentado nas diversas partes do globo terrestre. Especialmente, no Brasil, onde a cada 12 minutos uma pessoa é assassinada, sendo registrados 45 mil homicídios no País por ano. Depois desses números, fica difícil acreditar que somos uma nação pacífica. Na verdade, vivemos numa verdadeira guerra civil, cujas raízes estão fincadas ainda no forte desnível sócio-econômico da população.

Para entender a violência no Brasil, um exemplo que me ocorre agora, é referente à urbanização das grandes cidades. Em conseqüência da promulgação da lei áurea, houve na época, a substituição da mão de obra escrava negra, pelo trabalho do emigrante europeu. Imediatamente, uma grande parcela da população representada pelo contingente afro-brasileiro foi expulsa das terras dos antigos patrões para os morros e periferias das cidades. Logo, a favela a grande escola de marginais foi gerada pela civilização branca educada. Rui Barbosa, grande jurista da época, foi autor da lei que autorizou a queima de todos os registros da presença do escravo brasileiro nas grandes fazendas de café, no período da escravidão. “Vamos aniquilar a história do negro e ele nunca mais vai ter como reivindicar direitos trabalhistas ou qualquer outro direito”. Assim pensava os grandes escravocratas brasileiros daquela época. Agora, estamos todos, pagando o preço por essa grande estupidez.

No fato histórico citado, os iniciadores da violência foram uma classe social, mas não devemos esquecer que ela inicia-se primeiramente, na ação de um único indivíduo e vai se alastrando. Ora, se achamos que somos humanos, portanto capazes de gestos de carinho e fraternidade, porque continuamos a ser violentos? Talvez porque dentro de nós ainda exista resquícios dos homens das cavernas. O problema habita o caráter de cada um de nós, uns mais, outros menos.Assim, devemos começar a combater em nós mesmos, os sinais desse malefício. A violência é uma doença contagiosa e virulenta. O tratamento é doloroso, visto que implica em modificação de hábitos e costumes. Sempre é bom lembrar, que a cura de qualquer doença passa pela tomada de consciência da morbidade, depois a adoção de medidas terapêuticas adequadas para sua erradicação.

Por que a violência deve ser evitada? Obviamente, porque não queremos impingir aos outros, aquilo que não queiramos que nos façam. Eu não quero morrer, não quero que meu filho sofra. Portanto, não matarei o outro e nem farei o filho de alguém sofrer. Além disso, o sofrimento humano traz angústia, mesmo a quem não seja seu causador. Ou para quem não relacionado diretamente com a vítima. Portanto, estamos todos envolvidos. Se conseguirmos mudar um pouco para melhor, estaremos mudando o mundo. Caros leitores, vocês devem estar pensando: “nunca matei ninguém, ou cometi qualquer ato de violência contra outras pessoas”. Eu pergunto: “Será mesmo? Nunca teve vontade? Sempre se indignou contra a violência? Na campanha plebiscitária do desarmamento, qual foi a sua posição?”

Temos que reparar esse terrível mal. Iniciemos pois, tomando cuidados com os mínimos detalhes de nossa vida. Isso vale para o tipo de leitura que fazemos, os filmes que assistimos e também os vídeos que mandamos para os nossos amigos.Tudo isso, pode estar a serviço da violência. Vamos procurar erradicar dentro de nós, aquilo que não combina com o verdadeiro Ser Humano. Essa mudança de comportamento será sentida e imitada por outros tantos. O efeito multiplicador do bem dominará a terra e seremos certamente, um povo realmente pacífico. Daí, se alguém perguntar a você: por quem os sinos dobram? Responda incontinente: “dobra por ti e por toda a humanidade indistintamente”...!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 04/08/2010
Reeditado em 01/03/2012
Código do texto: T2418431
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