Livros de autoajuda

Nunca gostei de livros de autoajuda. Minto. Acho que já. Em épocas um tanto quanto remotas, talvez com quinze, dezesseis anos. Momentos em que a gente acha que vai encontrar receita de como se vive nesse mundo estranho, cheio de gente. Naquela época achava até interessante aqueles títulos "Como ter milhões de amigos e ser amado por todos", ou "Faça sucesso em seu meio". Pensava "nossa, que bacana! Tem receita!" Mas... como todo mundo (exceto Peter Pan) fui crescendo e vi que algumas pessoas inteligentes das quais eu admirava torciam o nariz quando passavam perto dos tais. Como a pessoa aqui é observadora, logo veio a constatação do porquê desses livros terem teor duvidável, apesar da tentadora proposta. Começando pelo título, aquele já citado acima sobre milhões de amigos e ser amado por todos. Ah, coisa mais desproposital! Uma que não se precisa de milhões de amigos. Basta um que seja presente e amável. Outra, 'ser amado por todos', isso requer no mínimo que você seja 'maria vai com as outras'. E ser maria vai com as outras não é nada bom. Tem até a história de uma ovelhinha que se chamava Maria. Onde as colegas iam ela ia, de modo que uma vez quase, quase caiu no precipício. Ainda bem que na última hora Maria resolveu comer feijoada e deixou de ir no embalo. E o mais interessante, sem deixar de ser Maria. Continuando sobre o amor genérico. Ao ser amado por todos, perde-se o risco de não ser amado por ninguém, nem por si mesmo. Sim, porque quem agrada todo mundo, só se desagrada. Pelo menos eu acho. Continuando sobre os livros de autoajuda, apesar de tê-los ainda como o 'ó do borogodó' eles tem trazido uma reflexão do quanto a vida é paradoxal. Não por nada. Mostro o exemplo. Tenho uma amiga que tem lido esses livros. Me escreveu esses dias contando um monte de coisas que aprendeu. Ela está menos perdida, mais autoconfiante. E o mais importante: mais reflexiva e mais alegre. Se tais livros servem pra isso, não são de todo vilões. Mesmo que eles proporcionem alegria meio dúbia, meio duvidosa, meio passageira. Alegria não é coisa eterna mesmo. Mas é a melhor coisa que existe. É melhor ser alegre que ser triste. Como já dizia o meu Vinicius, poeta do amor.