Hoje cheguei da feira do livro me sentindo leve e feliz. Apesar de ter começado o dia com o peito apertado pela saudade de papai e ter me permitido chorar, resolvi que não lamentaria as perdas. Festejaria os ganhos. Foi com este pensamento que fui para Estação das Artes, local onde estava acontecendo a feira. 


               A tarde começou com uma bela conversa sobre “Poesia: Uma leitura sem receita” com o jornalista Jotta Paiva. Foi um momento maravilhoso que contou com a presença do grande poeta Antonio Francisco, o poeta e crítico literário Prof. Dr. Leontino Filho e outros poetas da terra.


               Participei de vários encontros com autores, jornalistas, contistas, programas de entrevistas, todos maravilhosos, mas, a conversa sobre poesia foi um dos momentos inesquecíveis desta feira. Não apenas pela simpatia de nossa recepcionista, esposa de nosso palestrante, ou pela presença iluminada de Antonio Francisco, ou ainda pela presença marcante de Leontino, mas, sobretudo, pela poesia que brotava das palavras de Jotta. Pela forma inteligente e criativa como ele apresentou o tema e envolveu os presentes.


               Para fechar o dia com chave de ouro, melhor de prata, o vídeo que Marbenes, estudante de Comunicação Social, produziu com uma poesia minha foi classificado em segundo lugar. Ganhei uma cópia do belo trabalho e vim para casa toda feliz.


               Chegando em casa fui pegar o celular que deixei carregando e vi que havia duas ligações de meu filho caçula. Retornei. “Mãe, ligo já pra senhora”. Desliguei o celular e liguei o computador. Queria partilhar com vocês esta alegria. Antes resolvi ler e comentar alguns amigos recantistas.  Estava concluindo o primeiro comentário quando o telefone tocou. Era meu filho. “Mãe, não fique nervosa”. O sistema de alarme acendeu e comecei a tremer. O que aconteceu? Perguntei. “Mãe, um ônibus me trancou e não tive como evitar a batida”. 


               Mesmo ouvindo a voz dele, o filme dos últimos acontecimentos começaram a passar em minha cabeça e comecei a chorar. “Calma mãe, está tudo bem. Não aconteceu nada comigo, eu estava atento e vi quando ele veio para cima de mim, consegui frear e a batida não foi muito forte. Poderia ter feito um grande estrago, mas, graças a Deus, está tudo bem”. 


               Relaxei, conversamos mais um pouco e desliguei. Chorei. Agradeci a Deus por haver impedido outra tragédia, mas me senti muito pequena diante de tudo e senti medo. Confesso que estou ficando assustada com tanta tragédia. E, por mais que não queira pensar assim, surge a pergunta: por que meu Deus? Por que tanta dor? Tanta morte? 


               Não quero me deixar envolver pela dúvida, pelo medo, mas estou me sentindo meio perdida. Não posso fazer-me de vítima, achar que a vida está conspirando contra mim, que a morte está me perseguindo, mas deve existir uma forma de afastar esta nuvem negra que insiste em nublar meu céu. Por enquanto continuo pedindo a Deus que me dê força para continuar enfrentando estes temporais enquanto o vento suave não chega.   




Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 08/08/2010
Reeditado em 08/08/2010
Código do texto: T2426729
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.