A menina à beira mar

Caminhava com os pés descalços e sentia o calor do dia absorvido pela areia branca. No fim da tarde era sempre assim. Sentia um desejo imenso de caminhar à beira da praia. A sensação da areia quente, unida às ondas frias, arrepiava todo seu corpo. O vento fazia com que seus cabelos dançassem desordenadamente no ar.

Parava por um instante. Prendia os longos fios, forçando-os permanecer rente ao corpo. Na verdade aquela dança roubava-lhe a atenção e o cenário à sua frente era tão majestoso que não podia permitir tamanho deslize. Nem percebia, mas o ritual era sempre o mesmo, sempre coordenado.

Se algum observador atento acompanhasse seus longos passos, poderia dizer mentalmente qual seria o caminho a ser percorrido. Muitos diriam tratar-se apenas de mais uma esportista, mais uma adepta das caminhadas à beira mar. Ninguém poderia imaginar o que se passava em sua mente, exceto Deus. Ele tudo sabia, pois era com Ele que ela conversava durante todo seu trajeto.

Há muito tempo ela descobriu que seu verdadeiro amigo era invisível, que apenas Ele dizia palavras que poderiam lhe confortar. Todo final do dia ela queria alguém com quem pudesse conversar. Alguém que a ouvisse, que não a julgasse e que a aceitasse com todas as suas imperfeições. Sofreu muito até compreender que todos temos um ponto em comum: somos humanos e imperfeitos.

Passou a aceitar seu próximo tal como ele é. Repleto de medos, inseguranças, vaidades ...imperfeições. Porém, também repleto de amor, de bondade, de fé. Seguia sem se preocupar com quem estivesse olhando. Cantarolava uma música mentalmente e de repente seus lábios faziam ecoar o som do coração. Sorria...respirava fundo e seguia adiante. Acompanhada por seus pensamentos e seu Amigo invisível.

Buscava o melhor lugar e encontrava repouso na areia quente. Lá longe o imenso sol se pondo pintava o céu com seu tom alaranjado. Era lindo. Indescritível! Sua mente não parava. Sempre foi inquieta. Ficava imaginando o que se passava no coração de cada um ao ver aquela imagem de plena beleza.

Era sempre assim. Todo dia uma nova divagação, um novo pensar. Permanecia admirando o pôr-do-sol e após deitava na areia. Ali deixava todos os seus problemas, todas as suas frustrações. Mais um dia de vida, um dia a mais neste plano. E assim terminava sua jornada de trabalho, com uma longa caminhada à beira mar e levava pra casa a lembrança de sua permanência na praia ao escorregar, pelo piso da sala, a areia confidente de suas divagações.