Mais Uma Maria Apanhou

Não sei o que dizer. Não entendo como o ser humano pode chegar a esse ponto. Não tenho compreensão de atos assim. Eles assustam, deixam com raiva, fazem chorar.

Talvez porque dentro do peito lembranças vividas, já mortas, tornam-se vivas nas atitudes dos outros. Talvez porque tenho esse jeito de sempre me colocar no lugar da pessoa sofredora. Quem sabe, por sentir a dor do outro em mim, rasgando a carne, cortando a alma.

- Ah! Meu Deus! Como pode que o mundo gira e gira como as rodas do moinho e as águas que passam parecem nunca se renovar?

Acontecem sempre as mesmas coisas, explodem as mesmas guerras, eclode a mesma fome, o mesmo crime, a mesma dor que lacera, que corrói, que mata.

E fica a pergunta que não cala:

- Como pode um homem dizer que ama uma mulher e jogar sobre ela uma panela de óleo fervendo? Como pode?

Tento digerir a notícia. Ela não desce. Fica ali, dando um nó na garganta. As lágrimas caem.

- Que dor, meu Deus, que dor !!!!

Um vazio, uma sensação de derrota domina a alma. É como se todas as lutas fossem perdidas. Os braços caem. Dá uma vontade de largar tudo. Desanimar. Guardar a bandeira num canto e calar a voz que parece nunca ser ouvida.

Ontem ainda gritávamos nas ruas o fim da violência contra a mulher.

E hoje... Hoje a dor de mais uma, planta uma ferida dentro da alma, dentro do coração.

Penso nela. Em Maria da Penha. E em tantas Marias e Marias iguais a ela. Quantas Marias estão aí, apanhando, sofrendo agruras, violência, humilhação nas mãos de homens que dizem amá-las?

E quantas delas até pensam que merecem o que recebem?

Não, não consigo entender. Não consigo. Sinto raiva. Um misto de sentimentos de dor, desespero, medo...

E a dor que ela sente? Meu Deus! Que dor ! Ter o corpo, o peito, os braços, tudo queimado com óleo fervente, jogado pelo próprio marido...

E a alma? Como será que está lá dentro?

- Ahhhhhh!!!!! Não posso nem pensar. Não, não posso. A dor da alma é doída demais. É doída demais.

Quero que Deus me dê forças de lutar sempre contra isso. Quero que Deus me dê voz, palavras, coragem de nunca calar contra atos como esse.

E sonho. Sonho que um dia nós vamos conseguir. O mundo vai mudar. As pessoas vão se conscientizar.

Eu acredito. Eu acredito. Eu tenho de acreditar que um dia a violência contra a mulher vai acabar.

Maria
Enviado por Maria em 14/08/2010
Reeditado em 14/08/2010
Código do texto: T2437400