Dor

Aconteceu em Curitiba.

Fernando, um rapaz jovem, bonito, deputado, de família de classe média alta, o pai prefeito de uma cidade do interior, depois de jantar com amigos e ter tomado vinho, saiu sozinho do restaurante.

Pegou seu carro e saiu do estacionamento dirigindo em alta velocidade, os peritos concluíram que ele dirigia em alta velocidade, acima de 155 km/h.

Na mesma rua, á sua frente ia outro carro na velocidade permitida. Nele estavam dois rapazes, Gilmar e Carlos também jovens, ambos de classe média, vinham conversando tranquilamente, quando o destino traçou suas vidas de forma muito cruel.

O carro de Fernando, praticamente passou por cima do outro onde estavam os dois amigos, ambos tiveram morte instantânea.

Fernando também se feriu gravemente, foi hospitalizado, passou por várias cirurgias inclusive reconstituição facial. Escapou da morte por milagre.

Foi comoção geral na cidade, todos se voltaram contra o “assassino”.

A mãe de uma das vitimas compareceu a várias entrevistas, em todos os meios de comunicação expressou muito claramente sua dor e revolta, a outra mãe pouco disse, pois chorava muito.

Os pais pouco falaram, e pouco apareceram na mídia.

Ontem, um ano e meio depois do acidente, foi dado inicio ao julgamento do causador do acidente, ele respondia o processo em liberdade, a expectativa geral é de que vá a júri popular.

As mães que perderam os filhos tão tragicamente, como sempre esperam por justiça, uma delas declarou que não acredita que justiça seja feita... Só resta esperar!

Me intriga muito o fato de ninguém se preocupar com os pais do causador da tragédia. Eles sofrem pelo filho!Para entender melhor a situação, seria bom nos colocarmos no lugar dos pais do causador de tamanha desgraça. Principalmente a mãe.

Será que ela não está sofrendo as penas do inferno?

Depois de vê-lo tornar-se, um rapaz, saudável, estudado, bonito, cercado de amigos, ter trabalhado junto à comunidade, tanto que se elegeu deputado estadual não importa por quais meios, isto agora não vem ao caso, agora apontado por todos como um assassino.

Imagine a dor que ela sente. Saber que o filho causou tanta desgraça por ser irresponsável. Ele quase morreu no acidente, se submeteu a varias cirurgias e praticamente acabou com seu futuro político e talvez com a possibilidade de levar uma vida normal. Ele ficará para sempre marcado não só no físico, também moral e socialmente, vai passar muito tempo até que seja visto e aceito como alguém normal.

Ela sofre por ver a agonia do filho, ao imaginar como Fernando deve estar se sentindo, sendo considerado um pária.

Está certo, seu filho matou duas pessoas, por pura irresponsabilidade, isso não o inocenta de culpa, mas ela tem clara a noção de que a população quer vê-lo castigado, executado.

Do ponto de vista social, é a discriminação que existe, algumas vezes camuflada, contra pessoas de bom ou alto poder aquisitivo, elas merecem castigo por ter dinheiro(?), a mídia também como vampiros sugam essas pessoas, exploram o caso até a exaustão, mas este é outro assunto, uma analise do ponto de vista da sociologia renderia muitas páginas.A população está sempre em busca de um “cristo” para descarregar seus problemas, se esse “cristo” for rico melhor ainda!

O futuro atual do filho Fernando é incerto, os sonhos de ralizações estão jogados na lata do lixo!

Sobre a mãe, e o pai de Fernando nem uma notícia, nada!

É claro, que eles estão sofrendo desde o acidente, o cuidado com a saúde do filho, a possibilidade dele ir para prisão deve atormentar suas vidas. Perceber que no intimo o filho não se perdoa. Aliás, ninguém que cause tanta dor a outrem é capaz de esquecer e se perdoar, talvez somente os psicopatas e loucos consigam por serem seres doentios! Para os demais é uma dor prolongada, que parece não ter fim.

A cidade toda quer ver o “assassino” castigado, mas aos pais de Fernando nem um aceno de solidariedade, de atenção, até mesmo algum gesto de conforto para quem também está sofrendo.

Contratar os serviços de um bom advogado de defesa não traz alivio e nem consolação. Nada vai apagar de suas vidas este episódio tão triste.

È comum ouvir o comentário geral, de que nada acontecerá, porque os pais do rapaz têm muito dinheiro. Fernando vai sair livre!

Tudo bem, suponhamos que isso realmente aconteça, será que o trauma que o drama causou será menor para todas as famílias?A absolvição do rapaz fará com que a dor seja menor? Ele deixará de ser apontado como assassino irresponsável?

Caso contrário, se condenado, será que a tristeza vai deixá-los viver tranqüilos? Com Fernando na cadeia as marcas, e as saudades serão mais amenas?

Não acredito...

A incerteza do futuro de Fernando deve causar uma angústia que vai se estender por muito tempo ainda.

Ver somente um lado da moeda não é justo.

As famílias precisam tolerar o sofrimento, estão padecendo muito, duas pela perda dos filhos Gilmar e Carlos, a outra pela culpa indireta, saber que a população está contra seu filho, o desgaste do processo e o medo do futuro de Fernando.

É quase impossível que a vida de todos volte ao normal.

Somente o tempo poderá manter os fantasmas, da tragédia e do horror sofrido um pouco distantes...

Mas eles estarão sempre presente...

M.H.P.M.

Helena Terrível