APRENDIZADO DO ABISMO

Uma amiga virtual, Dalva Agne Lynch cita, num email, um texto muito interessante —de sua autoria — sobre o ser humano e seu eterno vir a ser: “Você não sabe”, onde considera que o aprendizado do abismo é “o aprendizado último da vida, é a desintegração da dualidade ser/não-ser e, com ela, a desintegração de todos os opostos.” E foi com o aprendizado do abismo que eu dormi, e acordei hoje...

Aprendemos sempre, desde que nascemos até o instante em que morremos, e dizem que no instante da morte repassamos a vida em segundos, como uma retrospectiva de transformação profunda. Poderia ser este o abismo que Dalva cita...?...

Aprender é, sempre, sentir-se mergulhar em algo desconhecido. Depende de quem aprende e de como aprendeu a aprender. A aventura da aprendizagem pode ser um mergulho num abismo de novidades, de magia, de encantamento, às vezes sofrimento... Sem medo de se lançar, pois o desejo de aprender é mais forte que o medo da morte e, afinal, ao aprendermos algo novo uma parte nossa morre, para renascer transformada e reintegrar-se ao todo...

Dos abismos procurei sinônimos: precipício, poço, trevas despenhadeiro. Quem quer se jogar num precipício? Cair num poço? Despencar de um despenhadeiro? Ou mergulhar nas trevas? Li uma vez que “o ser humano é um abismo, que dá vertigens”, e não lembro de quem é a autoria. Mas como, somos abismos? Sendo tão concretos, e no geral tão formais... Será que, talvez, é essa forma que configura o abismo em nós? Quanto mais formatados, mais perigosos somos...?...

Ou, ao inverso, são os livres, os loucos, os poetas, os rebeldes e aqueles tantos incompreendidos que não se enquadram? Como os hóspedes de "Procrusto, o esticador", que tinha em sua casa uma cama de ferro do seu exato tamanho, para a qual convidava todos os viajantes para se deitarem. Se estes fossem altos demais, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama ou, se fossem de pequena estatura, eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Ninguém sobrevivia, pois nunca uma vítima se ajustava exatamente ao tamanho da cama. Procrusto é sinonimo da intolerância do homem em relação ao seu semelhante. O mito já foi usado como metáfora para criticar tentativas de imposição de um padrão em várias áreas da vida e do conhecimento. Esse é o abismo da intolerância...

Mergulhar nas trevas dos vícios, sejam de qual natureza forem, é abismo muitas vezes sem volta: as drogas, o álcool, o sexo, o dinheiro, os prazeres fugazes, a depressão, o ódio, o medo. É! Porque a gente se vicia em padrões de sentir, nos viciamos na química que esse sentir produz... Desse abismo, só uma forte vontade pode salvar o que se lança! E quem dele sai, sempre conta que perdeu algo irrecuperável.

Ah... o mais doce dos abismos: Amar! A entrega no amor é sensação de dissolução no outro. O orgasmo é queda livre, nosso maior desejo e medo... Mas não falo de sexo apenas, falo do orgasmo entre dois amantes totalmente entregues ao amor... Um abismo de onde se volta sempre mais forte se o amor é verdadeiro e correspondido.

E por fim, na minha concepção, o abismo primordial: DEUS. Entregar-se a Ele totalmente, em plena confiança, e deixar que Ele conduza nossa vida, ‘os planos são nossos, mas os desígnios de Deus’ provérbio 16:9. Abismo que nos convida, estejamos em qualquer fase da vida, um dia chegaremos ao Pai!

Se há uma conclusão, a mim parece que a aprendizagem do abismo se resume nessa entrega total a Deus. Nela haverá aprendizagens e transformações, mortes e renascimentos, curas e bênçãos sem fim, e amor verdadeiro. Pois, nos desígnios de Deus, só o amor prevalecerá!

Paz e Bem!

Meus agradecimentos a Dalva por ter me escolhido pra partilhar seus textos e poesias maravilhosos!

Se você quiser ler o texto "Você Não Sabe" - Dalva Agne Lynch, acesse:

http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=635219

Zeni Bannitz
Enviado por Zeni Bannitz em 15/08/2010
Reeditado em 28/08/2010
Código do texto: T2440146
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