EU TENHO UMA IRMÃ !

Fui filha única até os dez anos de idade. Apesar do carinho e atenção dos meus pais, sentia uma ausência em mim; ausência que nem a amizade e o companheirismo de outras crianças preenchiam. Aliás, eu tinha uma inveja enorme das minhas amiguinhas, porque todas elas tinham irmãos! Isso mesmo, eu sentia falta de uma irmã.

Lá pelos seis, sete anos, uma prima, vizinha nossa, ganhou uma irmãzinha. Ainda acreditávamos em cegonha... Lembro que, tempos antes, vimos uma garça (que para nós era a cegonha), num banhado das terras de nosso avô paterno. Minha prima pediu um nenê para a "cegonha" e, pouco tempo depois, esse nenê nasceu! Daí em diante, não deixei mais as garças em paz! Bastava ver uma e lá estava eu a suplicar por um nenê...

Esse nenê enfim chegou! Numa noite fria e chuvosa de agosto. Com minha avó paterna rezei a noite toda, depois que colocaram minha mãe no carro que a levaria a Santa Maria (morávamos, nessa época, numa pequena cidadezinha denominada Mata), onde, durante os nove meses teve acompanhamento médico. Só que não deu tempo de chegar e a criança nasceu no meio do trajeto, numa cidade próxima.

16 de agosto de 1961 foi o dia mais feliz da minha vida! Os acontecimentos estão nítidos até hoje em minha mente e na minha alma. Recebi a notícia na escola, numa fria manhã de geada e ninguém mais me segurou! Só sabia rir, feito uma boba. A diretora me liberou para que eu curtisse, em casa, minha alegria. A viagem de trem (!) até S.Pedro do Sul, onde a "apressadinha" resolveu nascer... Um tio e minha prima mais querida me acompanhavam. Me vejo ainda, num vagão, sentada, irrequieta, com uma frasqueirinha azul... comendo ameixinhas amarelas, típicas do inverno gaúcho. Enfim conheci o nenê que, de tão lindo, mais parecia um anjo. Reencontrei uma das minhas gêmeas almas!

Hoje, passados quase cinquenta anos, o meu amor não arrefeceu. Apesar dos percalços que enfrentamos, das dores que sentimos, dos momentos em nos afastávamos por discordâncias ou pelo insensato agir, o sentimento perdurou.

Por isso, neste dia, como prova do meu eterno amor por ela, quis dividir com vocês esta pequena crônica que contém, nas entrelinhas, toda uma história.

A esta irmã amada, desejo seu encontro com a Luz! Se a vida nos feriu e as mágoas, por vezes, nos distanciaram, eu continuo te querendo com a mesma força que me impulsionava a suplicar que a "cegonha" te trouxesse para mim. Porque o amor triunfa além da própria vida.

Parabéns, minha menina, hoje mulher, ansiada irmã! Obrigada pelos presentes divinos que me ofertaste no percurso da tua existência: os três sobrinhos lindos que me deste! Paz e Luz!

Giustina
Enviado por Giustina em 16/08/2010
Reeditado em 12/02/2014
Código do texto: T2440459
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