MÃES E FILHOS

MÃES E FILHOS

Maria Teoro Ângelo

Mal se sentaram perto de mim, a mãe e a filha começaram um diálogo irritante. A mocinha argumentava que não poderia ir ao shopping porque tinha de estudar. A mãe exigia que ela fosse ver os últimos lançamentos de outono para não fazer feio perante as amigas. Era realmente um diálogo insólito: a filha ensinando à mãe os verdadeiros valores.

Comecei a gostar daquela menina firme e inteligente que não se dobrava diante da alienação daquela senhora. Vendo que eu prestava atenção à cena, a moça passou a se dirigir a mim como uma testemunha daquela conversa. Mais do que testemunha, eu me tornei advogada da garota.

Não sei se fiz bem, mas enfim, tenho o hábito de dar palpites mesmo sem ser chamada. Muitas vezes, as mães transferem para os filhos tudo aquilo que gostariam de ter feito. Querem dar a eles o que não tiveram e exageram terrivelmente.

A mocinha me contou que a mãe vigia a sua postura, não porque se sentar ou andar corretamente é bom para a saúde, mas porque pode criar uma barriguinha. As mães erram feio. Ainda bem que a filha tinha juízo. A mãe infelizmente não tinha.

Já na faculdade, excelente aluna, praticante assídua de esportes, sugeri deixá-la escolher o melhor para a sua vida. A mãe me ouviu sem reação e só pareceu concordar comigo quando eu disse que ela tinha a sorte de ter uma filha assim. Então complementou que a filha também tinha sorte em tê-la assim preocupada e amorosa.

Amar os filhos não significa sufocá-los e querer transformá-los em modelos de beleza para serem admirados nas passarelas do dia-a-dia. Essa mãe estava sendo premiada com uma filha cheia de personalidade e bons propósitos. Nem as tentativas de tirá-la do compromisso sério para as futilidades estavam tendo sucesso.

A cena me fez lembrar dos meus diálogos com a minha própria filha, que sempre teve opinião própria e que para minha sorte se tornou pessoa do bem. Todas as mães erram um pouco mais, um pouco menos e eu certamente errei. Minha filha não deixou que eu errasse muito.

Não há regras infalíveis para educar os filhos. O amor dito e demonstrado todos os dias, as conversas francas e amorosas, a cumplicidade, os ensinamentos, o encontro do meio termo, a aceitação quando eles estão certos podem não prevalecer sobre as forças estranhas do mundo lá fora.

Apesar de tudo, ser mãe pode ser uma agradável experiência de relacionamento humano. Fazer o que nos compete sem exageros e saber que não podemos viver no lugar dos filhos e nem eles podem viver as nossas vidas só sonhadas. São donos de seus próprios sonhos, dos seus próprios erros, de seus acertos e pouco podemos fazer para evitar seus sofrimentos. Mas como sofremos e rimos com eles! E mesmo assim, toda mãe adora dizer que o filho é bacana. Eu mesma ouço, de vez em quando, meus filhos me corrigindo: “ Menos, mãe, menos.”