Não adianta sofrer por pouco.

O sofrimento, por inevitável, tem de ser refreado e transmudado para situações propícias.

Um sofrimentozinho de vez em quando não faz mal a ninguém. O que não se deve é ficar o tempo todo murmurando sofrimento, “remoendo pequenos problemas ”, se iludindo com o que há e com o que não há por vir. O sofrimento é o inevitável tempero que dá mais sabor à vida. Porém, tem de ser usado com moderação.

Para alguns, na maioria das vezes, sofrer é uma opção de vida, um ideal, em que qualquer palavrinha mal-empregada, proferida sobre sua pessoa, o deixa dias de cama; quando não em coma, devido a um aneurisma decorrente de uma angústia passada.

É interessante ver o sofrimento como o ar que se respira, valendo apenas enquanto se vive.

Nesse ínterim, me recordo de que existem também pessoas classificadas entre os “conquistadores de sofrimento”, ou mestres do sofrer, como queiram. São umas espécies diferenciadas.

Para eles o sofrimento é algo que não se cria nem se compra, simplesmente se conquista. Vivem dia e noite na busca desenfreada de uma brecha para sofrer. O menor deslize é motivo para uma sofridinha. Sofrem mesmo às escondidas. E como gostam disso! Deleitam-se como se obtivessem um bálsamo, uma consolação. São psicologicamente dependentes de sofrimento. De modo incongruente, só estão felizes quando de fato estão sofrendo. São, em sua maioria, sectários do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, para o qual o mundo não passava de vontade e representação . Porém o compreendem de forma distorcida, ou sequer o compreendem.

É igualmente importante não se comparar a “arte do sofrimento”, em toda sua psicologia, com o masoquismo, que nada mais é do que “uma perversão sexual, em que a pessoa só sente prazer ao ser maltratada ”. Coisa carnal.

Ao contrário, o sofredor por natureza não quer ser maltratado, quer compaixão, humanismo, compreensão; que entendam que aquilo que o faz sofrer faz parte do show de horrores da vida, como o nascimento e a morte. Tal sofredor mantém uma relação mais anímica com a dor, sente-a em sua essência, absorvendo-a como fonte de vida.

Cristiano Covas, 25.05.05.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 19/08/2010
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