NUDEZ – PECADO? OU...PARAÍSO?
 
            Recentemente, fui conhecer João Pessoa. No translado do aeroporto até o hotel, o guia empolgado listava todos os passeios imperdíveis daquela cidade, na tentativa de nos seduzir e não deixarmos de conhecer lugares embriagadores. Logicamente, para levarmos divisas turísticas para lá. Nessa enorme lista, um lugar chamou-me a atenção pela descrição feita por ele: “Tambaba é um lugar imperdível, lá se você quiser se esbaldar é só subir a escada do pecado para descer no paraíso”. Confesso que aquelas palavras incomodaram-me. Pecado? Paraíso? Porque a nudez incomoda tanto a ponto de fertilizar a imaginação em opostos pensamentos.
 
            Sei que há muito tempo o ser humano deixou de contemplar o corpo como um templo que abriga a alma. Somos todos escravos de conceitos impostos ao longo da história da humanidade do tipo a nudez do corpo leva ao pecado. O cultivo desse conceito está aí, pra todo lado, exposto em bancas de revistas, em filmes pornográficos sendo os mais vendidos, em sites de internet (diga-se de passagem, os mais acessados) com a exposição dos corpos na clara instigação do lado sexual animalesco. A nudez, assim como o sexo, misturou-se no liquidificador de instintos, do quais o ser humano não consegue se libertar, para ser vista na ambivalência de pecado e paraíso.
 
            Qual é o pecado de um corpo nu, livre, leve e sem vestes diante da natureza, nua, livre, leve e sem vestes? Eu mesma já me fiz esta pergunta muitas vezes. Nunca me senti muito a vontade nua diante de outros olhos, apesar de nunca ter ficado inibida quando o assunto é saúde e não foram poucas as vezes que isso me aconteceu.
 
            Diante da escada de Tambaba perguntas gritaram alto dentro de mim. E gritaram em vários tons, em vários sons, em várias ressonâncias. Ali, diante daquela escada do "subir ou não subir", eu fui abarrotada de questionamentos, não apenas sobre da nudez do corpo, mas sobre a nudez dos pensamentos, sobre a nudez da imaginação, sobre a nudez dos sentimentos. Ali, diante daquela escada, eu estava contaminada pelos meus lixos internos e eles eram um esgoto a céu aberto.
 
            Descobri, em Tambaba, o quanto somos contraditórios. Temos vergonha de desnudar nosso corpo, nossos medos, nossas falhas, nossos sonhos, nossos desejos, nossos amores e nos esquecemos de que os nossos venenos, nossos preconceitos, nossos julgamentos, nossas repulsas, nossos repúdios, estão sempre completamente nus.
 
            Então, se subir a escada de Tambaba é considerado um “pecado” para o corpo, descê-la, certamente, é desfrutar o "paraíso" da alma.