A PALAVRA QUE MARTHA MEDEIROS ME PRESENTEOU 

Vou logo avisando o porquê desta crônica.

Sou, particularmente, fascinada pelo lúdico dos movimentos de duas mãos quando se encontram ou entrelaçam. Esse ritual simples, quase sempre despercebido, me deslumbra e não tenho explicação para isso.  Meus olhos acompanham o encontro dos pares dessa dança, como se assistisse a um espetáculo de balé clássico. Mas nunca parei para pensar o motivo desse encanto, até ontem quando estava lendo o livro de Martha Medeiros, Doidas e Santas.  

É!!! Martha Medeiros sabe tudo como descrever a magia das coisas simples. Foi ela quem me fez descobrir a palavra certa para esse meu encantamento – cumplicidade. Segundo ela, o que falta hoje aos amantes, não é luxuria, é esta forma brejeira de intimidade: dar as mãos.

Eu concordo com ela e vou além. A intimidade das mãos não é exclusividade dos amantes. Mãos espalmadas sobrepostas é praticamente o toque de um coração  noutro coração. A palma da mão pulsa e palpita. É só prestarmos atenção para podermos sentir o outro e desfrutarmos dessas mãos dadas

Nossas mãos entrelaçadas em outras mãos dançam a música do “eu te amo”. Elas dançam ignorando nossos compassos. Elas são donas e senhoras de  seus próprios ritmos. Não importa sejam as mãos de um amor, de um filho, de um amigo, de uma amiga.

As mãos são sim cúmplices silenciosas do afeto, do aconchego, do afago confortante, do colo.

Cúmplice! Esta é a palavra que eu tanto buscava. Martha deu-me de presente na sonolência de um sábado frio e eu a agradeço por isso.

As mãos dadas e a cumplicidade, a cumplicidade das mãos dadas é tudo que eu queria agora.

Ei, você aí! Que tal sermos cúmplices?