O churrasco

Quando souberam que o patrão faria um churrasco de confraternização na empresa, muitos funcionários não acreditaram, principalmente os mais antigos, que, vacinados, escutavam esse boato há muito tempo. Alguns mais esperançosos, não duvidavam da intenção do patrão, mas ficavam com os dois pés atrás. Os mais maldosos diziam que a carne era proveniente de algum boi que morrera em uma de suas fazendas. Resumindo. Todos ali estavam céticos sobre o churrasco, pois conheciam bem o patrão que tinha.

As várias promessas não cumpridas pelo próprio patrão eram uns dos motivos, ainda mais não tendo nenhuma data comemorativa, como aniversário da empresa, metas estabelecidas e cumpridas, aquisição de equipamentos, ou seja, tudo que já tinha sido usado como pretexto para se fazer um churrasco, em algum momento deixava de ser importante deixando o esperado churrasco para outra oportunidade.

Com a data já marcada para uma sexta, alguns ainda duvidavam, mas não deixavam de cruzar os dedos. A semana pareceu transcorrer normalmente, mesmo com a notícia de confirmação por meio de um comunicado geral, pelos corredores boatos de cancelamento surgiam a todo instante, na verdade a ansiedade pelo grande dia era inevitável. Era aguardar a sexta e ver com os olhos e se possível com a barriga a veracidade do churrasco.

Chegada à esperada sexta-feira, pela manhã ainda se ouvia comentários de cancelamento, que foi rechaçada rapidamente quando viram chegar sobre a caminhonete do patrão uma grande quantidade de carne, latinhas de cerveja e garrafas de refrigerante. Pronto! Naquele momento quem ainda duvidava ficou de boca aberta, os funcionários mais antigos, descrentes, não acreditavam no que estavam vendo, finalmente o churrasco sairia. Foi a sexta mais atípica desde que se inaugurou a empresa, isso há quinze anos, a ansiedade tomou conta de todos os envolvidos, o patrão percebendo nos semblantes de cada funcionário a felicidade, cumprimentou a todos e seguiu para o seu escritório.

A carne sobre o carvão soltava o inconfundível cheiro que pairava por toda fábrica, a cerveja gelando no freezer junto com os refrigerantes e a música animando o ambiente davam um clima festivo, o patrão observando da janela de seu escritório a confraternização, gostava do que estava vendo e até planejava fazer mais vezes. Mas... com o calor alguns se esqueceram de moderar na bebida alcoólica, e o que parecia caminhar tudo bem, só parecia, aqueles que não bebiam cerveja eram incomodados pelos alterados, outros dançavam rebolation, uns caídos, outros urinando pelos cantos, fora aqueles que vomitavam a bebida com pedaços de carne crua que consumiam sem noção.

Ao ver aquilo tudo do seu escritório, ficou desesperado com a situação, chamou o encarregado e pediu que terminasse com a festa, ele, o patrão, saiu do local desanimado. O encarregado que ficou de dar a notícia do fim da festa, foi vaiado, xingado pelos mais exaltados, que queriam continuar com a farra, e até ameaçaram agredi-lo. Percebendo que perderia o controle, ligou para 190, quando a polícia chegou encontrou um quebra-pau daqueles. Socos, insultos, pontapés, cadeiras voando, a turma “do deixa disso” tentando acalmar os ânimos, a turma do refri contra o pessoal da cerveja e o encarregado debaixo de muita porrada.

Os policiais, em dois, ao chegarem e vendo toda a confusão, pediram reforço imediatamente e sem outra alternativa para acabar com a pancadaria, um deles sacou a arma e disparou para o alto. Tá! Tá! Todos paralisaram com o barulho dos tiros. Com a chegada de mais dois carros da polícia, todos os envolvidos foram encaminhados para a delegacia, menos o coitado do encarregado que muito machucado foi parar no hospital.

Na segunda, o clima pesado na empresa demonstrava a palhaçada da sexta passada. Nunca mais se soube de outro churrasco no local. Ah, e o encarregado precisou imobilizar um dos braços devido a uma luxação.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 24/08/2010
Código do texto: T2456280
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