O homem é naturalmente bom, a sociedade é que o corrompe (ou não)...
Uma sala de espera. Algumas pessoas sentadas, logicamente esperando. E eu, também sentada, logicamente esperando, e ilógicamente observando. Algumas crianças brincando aos pés de seus pais, algumas pessoas idosas conversando, e eu sozinha absorta em meus pensamentos observatórios.
Duas crianças estavam a brincar, uma delas de aproximadamente uns 10 meses de idade, ou outro já mais crescido, em torno de três anos. O primeiro brinca com os brinquedos da sala de espera, e o mais crescido com os seus, trazidos pela sua mãe.
Chegada a hora da consulta do mais velho, essa acaba deixando seus brinquedos com o mais novo, o qual se distrai brincando. A criança na idade do menor ainda não tem uma perfeita noção do que é seu e do que é dos outros, se tu deixares algo com ele, ele crê ser dele, de sua propriedade.
Pois bem. Finda a consulta, o mais velho se retira, e a mãe do mais novo diz ao seu pequeno:
--Meu anjo, devolva os brinquedinhos do teu amigo.
E ele prontamente devolve e agradece com um abraço. Então, ato inesperado, o mais velho dá uma moto ao mais novo. O mais novo pega, e quando esse o faz, o mais velho toma o brinquedo, fazendo com que o mais novo “prendesse o grito” chorando entristecidamente pelo ato.
Aí eu percebi a crueldade humana, e a fragilidade dos que acreditam. Se visses o olhar, a alegria no olhar do projeto de Maquiavel, ou talvez Marquês de Sade, prontamente concordarias comigo.
Eu vi a crueldade nos olhos de uma criança, coisa que nunca acreditei que pudesse ver. E aí então comecei a discordar de Rousseau, que postulava que o ser humano é naturalmente bom, apenas a sociedade o corrompe. O ser humano na minha concepção é naturalmente cruel, ele é naturalmente egoísta, e ele é a sociedade corrupta e corruptível. Não há ser humano naturalmente bom, e sim aquele que depois de ser cruel o suficiente percebeu que a crueldade é algo que não leva a lugar algum.
O ser humano é naturalmente egoísta. Ele jamais fará algo em proveito dos outros se ele mesmo não possa usufruir algo, nem que seja o reconhecimento pelo seu feito, pela sua boa(egoísta)-ação. Quando ele aprende as convenções sociais, deixa de expor sua crueldade e seu egoísmo perante os outros. Ele aprende a ser egoísta e a ser cruel nas entrelinhas, na sutilidade de cada palavra escrita, de cada frase dita.