TRAIÇÃO

Deste final de semana não passa, disse Bilu, com a adrenalina a mil.

Há vários sábados ele vai trabalhar à tarde e fica até altas horas, dizendo que está com serviço acumulado no escritório, e eu aqui, sozinha, sem poder sair para jantar com os amigos, ir a um cinema ou mesmo curtir um final de semana ao seu lado.

Cheia de coragem, Bilu, naquele sábado, disfarçada com um lenço na cabeça, óculos escuros fora de moda que encontrou no fundo de uma gaveta, vestiu um casaco velho e ligou para sua amiga Tati, que além de vizinha também era sua confidente.

Contou seus planos e pediu para a amiga ficar de plantão já com o carro dela estacionado em frente á sua casa.

Tati, amiga fiel, não só atendeu ao apelo, como também agachou-se no interior do veículo para não ser vista.

Assim que o marido tirou o carro da garagem, Bilu entrou no carro da amiga para seguir o BMW preto, que acabara de dobrar a esquina.

Tinha que descobrir em que motel se encontrava com a amante.

Esse sem-vergonha vai me pagar...

-- Você não pode ir mais rápido, perguntou à Tati, que então pisou mais fundo.

Pelo trajeto que estavam fazendo, logo viu não era o caminho do escritório.

Este ficava em outro bairro da cidade.

--Vagabundo, maldito, você me pagará – esbravejava a mulher.

-- Calma, calma, dizia a amiga, veja o que vai fazer.

-- Vou matá-lo, vou matá-lo, e assim foi em todo o percurso, xingando, expelindo seu ódio.

De repente, o carro pára em uma casa, que era uma verdadeira mansão.

Bilu esbravejava, soluçando desesperada.

-- Ele já tem outra família! Há quanto tempo me enganava?

Saiu do carro gritando: -- Rian, Rian, eu sei que você está aí, venha aqui seu vagabundo.

De dentro da rica mansão saiu uma mulher aparentando setenta anos de idade,vestida com muita elegância e um homem de cabelos grisalhos, postura de jovem, ambos muito assustados em vista da gritaria do lado fora.

Sem saber o que estava acontecendo, disse o homem com toda a calma:

-- Aqui não mora nenhum Rian, minha senhora.

Mora sim, ele acabou de entrar aí e com certeza deve ter algum caso com sua filha, disse Bilu.

-- Minha filha não mora aqui, casou-se há muito tempo, mora em São Paulo e vive muito bem com o marido.

Bilu não acreditou -- Não me enrola, Rian está aí dentro eu o vi entrando, estou seguindo-o há mais de meia hora.

Nisso surge na porta um homem bonito, porte atlético, em trajes de ginástica, que depois de inteirar-se da confusão, perguntou se, por acaso, era o carro que estava na garagem aquele a que se referia.

-- É este mesmo, disse Bilu, conheço-o de longe.

Então, continuou o homem, por favor, chegue mais perto, confira a placa.

Aí o mundo caiu: a placa era diferente.

A mulher que acusava queria que o chão se abrisse, diante do vexame que aprontara, perante pessoas estranhas e tão distintas.

Pediu mil desculpas e entrou no carro.

Na volta, para sua segurança, pediu a Tati passar em frente ao escritório.

Lá estava o carro de seu marido no estacionamento.

Voltou-se para sua amiga, agradeceu a companhia, desculpou-se e encerrou, dizendo:

-- Sem comentários.

Entrou em casa, ligou para o marido e disse-lhe docemente que o aguardava para o jantar.

Acendeu velas no castiçal, flores, arrumou a mesa como nunca e imaginou-se não só naquele momento em sua companhia , como depois... na cama... bem, depois... é outra história.

Pietra
Enviado por Pietra em 21/09/2006
Reeditado em 21/09/2006
Código do texto: T245828