Crônica de Branca de Neve Bibliotecária

Rose Silva

Crônica de Branca de Neve

Bibliotecária

Era uma vez numa cidade qualquer, de algum lugar não muito distante, nasceu uma garotinha muito branquinha, que recebeu o nome de Branca de Neve, porque quando ela nasceu fazia muito frio. O pai e a mãe de Branca de Neve ambos vinham de famílias numerosas, e que não tiveram oportunidade de estudo, mas sabiam ler e escrever. Branca de Neve era a única filhinha que tinham e antes de completar cinco aninhos já lia e escrevia muito bem porque seus pais a ensinaram. Viviam felizes e despreocupados, até que um dia a mãezinha de Branca de Neve, acordou tarde para trabalhar e ao sair correndo para atravessar a rua e alcançar o ônibus, morreu atropelada.

Seu pai ficou inconsolável e Branca de Neve com apenas sete aninhos teve que assumir todos os afazeres de casa. Seu pai passou a trabalhar muito para tentar esquecer um pouco da amada esposa e neste emprego foi que conheceu Maldina sócia da empresa. Maldina apaixonou-se pelo o pai de Branca de Neve e descaradamente chamava-o de queridinho, abraçava-o e o convidava sempre para depois do expediente ir para o apartamento dela. Rodolfo se esquivava ao máximo, porque não queria saber de outra mulher em sua vida, ainda amava sua falecida esposa e iria viver para cuidar de sua preciosa filhinha, mas de tanto Maldina insistir contou-lhe a verdade e astutamente Maldina começou a enlaçar-lhe fantasias de que ambos seriam felizes e cuidariam de Branca de Neve. Maldina na verdade era uma rica solteirona egoísta, maltratava e humilhava os funcionários, odiava crianças, flores e animais e vivia para ganhar dinheiro e comprar o amor dos homens que a atraia, Rodolfo era um homem muito bom e trabalhador conheceu a mãezinha de Branca de Neve, que se chamava Roseli, vendendo vale transporte para ela, foi amor à primeira vista. Ambos ficaram temerosos de nunca mais se verem, então deduziram que se chegassem ao mesmo horário e no mesmo local haveriam de se encontrarem novamente. Roseli vestiu o seu melhor vestido e passou bastante perfume, Rodolfo barbeou-se, encheu-se de água de colônia, engraxou bem os sapatos, comprou uma camisa social e ficou de plantão a espera de Roseli que chegou antes que ele duvidasse se ela viria. Roseli era alegre e falante e muito apressada por isso morreu atropelada. Rodolfo suspirava e quando não tinha ninguém por perto chorava de saudades de sua amada .Branca de Neve também sentia muita saudade de sua mãe e como passatempo e lembrança dela só tinha a Bíblia Sagrada. Este livro definiu o destino de Branca de Neve como bibliotecária. Lia e relia o livro, sabia o nome de todos os livros de dentro da bíblia, os capítulos e até quantos versículos em cada um dos livros. As histórias bíblicas a fascinava... seu pai logo percebeu o gosto da menina pela leitura e comprou-lhe livros e mais livros, que continham alguma história de virtude. Branca de Neve foi crescendo e ficando mais bonita porque era virtuosa e inteligente. Já se passavam sete anos sem que Maldina conseguisse uma chance com Rodolfo. Branca de Neve agora tinha quatorze anos e tinha aconselhado o pai a não se casar com Maldina porque ela era muito mandona e malvada. Um dia quando estava doente, seu pai a tinha levado para o trabalho porque temia que ela ficasse sozinha porque tinha tido muita febre à noite e tossia muito.

Maldina não sabia que Branca de Neve era filha de Rodolfo, irrompeu no escritório e viu somente Branca de Neve e o colega de Rodolfo, deduzindo que Branca de Neve era sua filha foi logo gritando: vai logo embora com essa menina daqui, se você ficar mais um minuto aqui eu te demito! E não pense você que hoje eu vou pagar a seu dia. E se eu souber que alguém faltou serviço porque está de babá de filho doente pra mim não serve para o serviço. Falta só por motivo de morte. O bom funcionário para mim é aquele que atrasa uma vez só: porque morreu e pelo o mesmo motivo é que falta na empresa.

O coitado do funcionário tentou explicar a situação para Maldina, mais esta estava irredutível e furiosa, avisou em tom ríspido e ameaçador: Grrr... se eu ouvir um, mas, Dona Maldina... eu te mando pra rua, rua, rua! E pra nunca mais voltar! Pegue esta menina e suma da minha frente se quiser voltar amanhã!

O coitado do funcionário teve que obedecer, foi-se embora porta afora segurando a mão da menina que Maldina supunha ser sua filha. Encontrou Rodolfo do outro lado da rua com um pacote de novos chips inteligentes de celulares, todos eram o mesmo número e cada funcionário tinha o seu celular, mais poderiam conversar todos ao mesmo tempo e serem monitorados, e suas conversas também poderiam ser gravadas e desligadas automaticamente quando fosse conveniente ao departamento de informática da empresa. Rodolfo informado da constrangedora situação que passara sua filha sentiu vontade de bater em Maldina, ou ao menos falar-lhe umas poucas e boas sobre educação e humanidade; mas sua inteligente e virtuosa filha lhe aconselhou a resignar-se e continuar trabalhando como se nada tivesse acontecido. Pagaria o dia do colega e não diria nada a Maldina. Assim aconteceu... Maldina cortou o dia do funcionário que já havia recebido de Rodolfo. Continuava a tentar uma chance com ele, que agora ou estava alheado ou esquivava-se com nojo, sem qualquer disfarce, pois a achavam as que asquerosa e asnática. Maldina enchia Rodolfo de presentinhos, mas ele não aceitava, deixava tudo no mesmo lugar que ela colocava e ele falava que não gostava que mulher nenhuma lhe desse presente e muito menos achava conveniente que sua chefe lhe presenteasse sem existir um motivo para isso. Mas, era pior... quando ele falava isso ela retrucava com apelações verbais do tipo que o irritava; como assim queridinho? Você sabe o que eu sinto por você, eu quero muito cuidar de você e da sua filhinha, que tal sairmos depois do expediente? Rodolfo tinha tanto serviço para fazer e tão pouco tempo e constantemente eram interrompidos por isso se passaram anos com aquele lenga, lenga no seu ouvido. Um belo dia quando Rodolfo abre a porta do escritório, também sai uma funcionária do setor de informática. Ambos ficaram prendendo a fechadura até que Rodolfo resolveu dizer, “me deixa abrir para você”, só que a funcionaria também teve as mesmas palavras e enquanto riam, o colega de Rodolfo abre a porta e pergunta se já foram apresentados. Rodolfo, a acha simpática e ela o acha muito bonito e educado; e por isso tornaram-se amigos inseparáveis e alvos para Maldina humilhar e perseguir por causa de sua maldade e ciúme. Obrigava a moça a trabalhar até mais tarde, inventava serviço, danificava os objetos de trabalho da moça e descontava no salário dela. O pior foi quando Maldina mudou a voltagem do computador e deixou que queimasse bem, para que não aproveitasse a placa mãe do computador e obrigará Suzie a chegar mais cedo para que pudesse incriminá-la sem defesa e sem testemunha. Maldina chegou abruptamente dizendo “aqui esta o mapa que eu quero escaneado”. - Mas D. Maldina, não era uma tabela...?- Minha filha faça o que eu mando! Eu quero um mapa com a localização da empresa com pontos de referência para mandar fazer alguns folders até sexta – feira. - Sexta da semana que vem? Perguntou Suzie humildemente. Mas Maldina já foi logo dizendo impropérios para a moça chamando-a de sonsa, nocega e preguiçosa. Ou era burra!? Mas não conseguiria ficar na empresa se não executasse aquele serviço naquele dia. Espantada com a atitude desalmada de Maldina, Suzie destampou a chorar.... E Maldina por dentro gargalhava-se de alegria e antes que terminasse de concluir seus pensamentos sobre a demissão de Suzie, depois que ela tentasse ligar o computador... Ela respondeu com firmeza e raiva à Maldina: “vou procurar meus direitos, nos veremos no tribunal!”. Mas, para surpresa de Maldina o próprio advogado da empresa recusara-se a defendê-la; e como todos os funcionários eram contra ela e os associados da empresa se sentiram desconfortáveis com a situação de comum acordo não só a excluíram do quadro de sócia como também a processaram por danos a idoneidade e responsabilidade social da empresa.

Rodolfo e Suzie continuaram a trabalhar na empresa, e ele pediu a ela que pudesse conversar com ela melhor depois do expediente e ela aceitou o seu convite, ambos gostavam de uma livraria que tinha perto da empresa que chamava: Chá, Leite, etc. e Livros. Conversaram e sorriram muito juntos. Branca de Neve estava muito feliz porque não só tinha aconselhado certo seu pai a continuar na empresa como também tinha pedido para ele pedir a Suzie em casamento e ela aceitara. E estavam todos os três vivendo como uma família muito feliz. Branca de Neve, lógico, acertara todos os seus palpites, porque era bibliotecária e lia muitos livros. Hoje Branca de Neve é Doutora em Ciências da Informação, casou-se com o seu orientador e ambos trabalharam na mesma universidade, que se conheceram. E viveram felizes como todo casal que tem os mesmos objetivos, que se encontraram ao acaso do destino para nunca mais se separarem.

Moral da história: “Quem lê um bom livro, escreve melhor as páginas da sua vida”.

FIM

Rosinalva Machado Silva Bibliotecária
Enviado por Rosinalva Machado Silva Bibliotecária em 28/08/2010
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