A PRAÇA, O MELHOR POINT DA CIDADE!

Lêda Torre

Quando era adolescente, por volta dos meus 14 ou 15 anos, cheia de sonhos, uma garota assim meio boba, digo,muito imatura, do coração puro, sem maldades, linda, sonhava com meu futuro ainda tão incerto, pensava em encontrar meu príncipe encantado, claro, um grande amor,casar ter filhos, minha família, um bom emprego, e bem sucedida na carreira de escritora, viajar pelo mundo, coisas daquela idade. E, como morava numa cidade pequena, sem televisão ainda,só um cineminha que passava apenas filmes de bang, bang e karatê, não tinha muita coisa pra se fazer, nenhum point para o encontro dos jovens para conversarmos ou coisas assim.

Mas, após uma semana inteira de estudos e afazeres caseiros, íamos de dia tomar banho no rio Itapecuru que banhava a cidade, à noite, o point que servia de encontro seria as duas praças do centro da cidade, uma de preferência, onde os jovens da cidade iam passear, dizia-se assim.

Pois bem, nos aprontávamos com a melhor roupa, lembro-me que tinha uns vestidos lindos de rendão, sandálias saltinho Anabela, de cortiça, cabelos cacheados, com um laço enfeitando o rabo de cavalo. Maquiagem simples,e um perfume da recém inaugurada Avon, ou Charisma, ou Sherazade, ou Toque de amor, etc.

Lindas como sentíamos nós, era um grupo de moças , quase todas da mesma idade, que juntas descíamos rua abaixo, pois minha casa fica numa rua íngreme, e o nosso destino era às dezenove horas assistir a missa de domingo, depois a praça, e talvez as boatezinhas da cidade, mas essa última era meio “às escondidas”...de luz negra...novidade da época, porém nossos pais nem imaginavam que fôssemos ali,embora no dia seguinte eles terminavam sabendo da escapulidinha que às vezes ousávamos dar. Sempre achei gostoso dançar. E ali, quando conseguíamos chegar àquela boate, cujo nome era “Boite FLAMA”, considerada a mais social, digamos assim, e a outra era para “gente falada”, aquela mais desavergonhada.... segundo os conceitos de nossos pais, mas era aquela que muita gente era tentado a ir...até o nome era “TOCA DO PAJÈ”, imagina o nome....

Pois bem, mas o gostoso mesmo era passear na praça. Ali tínhamos s oportunidade de conhecer vários rapazes que rodavam toda a praça em sentido contrário....nós moças íamos por um lado, e os rapazolas pelo outro, e nesse percurso, os flertes...os olhares...finalmente a paquera, quando o cupido tocava nalgum casal reciprocamente...

Engraçado é que, na hora que descíamos a nossa Rua Rio Branco, vulgo Rua do Cancão, havia sempre aquelas vizinhas de plantão, fofoqueiras e desocupadas para marcar no seu relógio a hora que a moçada descia a rua e a hora que voltávamos...isso nos irritava, mas mesmo assim, deixávamos pra lá, afinal era a vez...nossa, e principalmente se nesse retorno, sempre voltávamos com um namoradinho....

Nesse círculo da vida, muitos daqueles namoros estão juntos até hoje, casados, avós, com a casa\cheia de netos, outros decepcionados, preferiram a solidão da solteirice, outros casaram-se e descasaram-se...infelizmente...muitos se foram moram fora do estado, outros fora do país, como se sabe que dessa turma tem gente na Inglaterra, outros na França, no Canadá, na Suíça, Na Bélgica, etc...

Aquela nossa velha praça se falasse, contaria aos quatro ventos quantas juras de amor, quantos abraços, quantos beijos de amor, ou furtivos, quantas promessas, quantas namoros desfeitos, quantas brigas de namorados, etc...só sei que hoje ao retornar todas as vezes de férias à minha terra, sempre reencontro colegas dessa época, inclusive as que nunca nem saíram dela, outras hoje viúvas e sós, outras já bem alquebradas pela vida, enfim, mas cheias de lembranças boas que ficaram na nossa vida.

O que nos deixa também tristes, é que a “nossa praça está hoje feia, toda calçada,sem nenhuma planta, somente com alguns bancos feios também, sem graça, mas todas as vezes que passamos por ali, as lembranças de como era o seu desaign, nos vêem à memória, e lembramos também das amigas que já partiram para sempre...

Tenho amigas, vizinhas à minha mãe, que ao chegar por lá, elas ficam lá comigo na nossa calçada, conversando , rindo e lembrando com detalhes de nossa vida ainda tão jovem, e de tudo que nos faz recordar com saudades e com carinho...ali conheci o amor, onde um primo me pediu em namoro, aliás, meu inesquecível e grande amor, que ainda está vivo...meu primeiro namorado...as primeiras promessas de amor...um jovem soldado do Exército Brasileiro, que todas as vezes que vinha de férias, passava pelo menos uma semana na minha casa, comigo, e eram dias maravilhosos, coisas que nem o tempo poderá jamais apagar...ali aconteceu nosso primeiro beijo...nossas primeiras juras de amor...quantas noites fiquei insone, por causa daquele momento único e inesquecível...o preço daqueles momentos me custaram caro...uma vida...muitas ilusões...mesmo que muitas coisas não tenham dado certo como aquelas jovens todos planejaram para sua vida...ah, aquela velha nossa amiga praça, muito me toca toda vez que ali trafego....quantas saudades...quantas lembranças...

_______Colinas, dezembro de 2009_________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 28/08/2010
Código do texto: T2465567
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.