GOD SAVE THE QUEEN!

Uma homenagem a Freddie Mercury,
a verdadeira personalidade do Queen
 

     Freddie Mercury completaria neste mês, no dia 5, 60 anos de idade, se a AIDS não o tivesse levado, em plena maturidade criativa, no final de 1991. É uma daquelas coisas que me levam a perguntar se há justiça nisso tudo – essa história de viver, morrer, cada um a seu tempo e do seu jeito. Será que se todos tivéssemos, sei lá, 80 anos certinhos pra viver e, naquele ponto certinho da vida, ela terminasse do mesmo jeito para todos, o mundo seria mais justo? 
     Não posso responder a pergunta, e acho que não tenho nada que me meter nesses assuntos metafísicos. Deus sabe bem o que faz. Além disso, sei que Freddie Mercury tinha consciência de que pagou por seus excessos numa época em que a AIDS não tinha tanta divulgação quanto hoje, e ainda trazia aquela maldita pecha de “peste gay”. Quanta gente se sentiu imune e acabou infectado? Mas penso: por que será que os bons morrem antes? 
     Noutro dia, fiquei horas assistindo um especial sobre o cantor no History Channel. Na verdade, um documentário sobre a vida de Mercury e um sobre o show realizado pelos remanescentes do Queen (Brian May, John Deacon e Roger Taylor), em novembro de 1992, que contou com a participação da nata do rock e do pop na época. O Queen está no meu rol das cinco melhores bandas de rock de todos os tempos. Fazia canções retumbantes, operísticas, às vezes acusadas de fascistas (“We are the champions”, por exemplo), raramente só com violão ou piano. Era uma banda para sacudir a platéia, fazer grandes shows, encher estádios. 
     Sem Freddie Mercury, não tenho dúvidas, os três colegas – apesar de ótimos músicos – não teriam essa visão e esse carisma. 
     Freddie era, na verdade, Farrokh Bulsara, nascido em Zanzibar, na época uma colônia britânica, hoje pertencente à Tanzânia, em 5 de setembro de 1946, na localidade de Stone Town. Bomi e Jer Bulsara, os pais do cantor, eram indianos de etnia persa. Mercury foi educado na St. Peter Boarding School, uma rígida escola inglesa perto de Mumbai, na Índia. Foi lá que ele deu seus primeiros passos no caminho da arte, com aulas de piano e uma banda de rock – coisa surpreendente para a época e o lugar. 
     Uma revolução iniciada em Zanzibar levou Freddie e sua família a partir para a Inglaterra, em 1964. Lá, diplomou-se em "Design Gráfico e Artístico" na Ealing Art College, que já abrigara outro roqueiro famos, Pete Townshend do The Who. Na faculdade ele conheceu o baixista Tim Staffell, de uma banda na faculdade chamada Smile, que tinha Brian May como guitarrista e Roger Taylor como baterista. Ele levou Freddie para participar dos ensaios mas, em abril de 1970, com a saída de Tim, Freddie assumiu os vocais e a banda passa a se chamar Queen. Nessa época, mudou o seu sobrenome artístico para Mercury. 
     Freddie Mercury compôs muitos dos sucessos da banda, como "Bohemian Rhapsody", "Somebody to Love" e "We Are the Champions”. Além da extensa discografia que produziu com o Queen – destaque para “A Night at the Opera” e “A day at the races”, dois discos conceituais e recheados de hoje clássicos do rock – Mercury lançou dois discos solo, inclusive uma parceria com a soprano Montserrat Caballé. Mercury era bissexual, mas só assumiu publicamente sua condição ao anunciar que estava com AIDS, um dia antes de morrer, em 24 de novembro de 1991 em Londres. 
     O irônico nisso tudo é que, daqui a pouco mais de dois meses, vamos estar lembrando os 15 anos da morte de Freddie Mercury e a conscientização a respeito da AIDS ainda está engatinhando. Em países mais pobres, nem mesmo se sabe bem o que é isso. Os enfermos não têm direito ao tratamento – ponto no qual, felizmente, o Brasil está bem avançado. 
     Os dois documentários que assisti, pelo History Channel, têm a renda revertida para a Mercury Phoenix Trust, uma entidade fundada pelos membros remanescentes dos Queen para divulgação e apoio às vítimas da epidemia. Até 2002, a "The Mercury Phoenix Trust" já tinha doado e investido em pesquisa mais de 7 milhões de libras. O show beneficente que organizaram em abril de 1992 - "The Freddie Mercury Tribute Concert" para homenagear o trabalho e a vida de Freddie – foi considerado um marco da união da classe artística em torno de um nome e uma causa. Outros especiais estão sendo exibidos na TV, como “Queen – The Magic Years”, que passou no Eurochannel. É bom lembrar de alguém assim. 
     Todos dizem que Freddie Mercury não era só um grande artista – era também um grande cara. É assim que gosto de lembrar dele – ouvindo “Somebody to love”, “Don´t stop me now”, “Bohemian Rhapsody” ou “Save me”, dedilhando alguma coisa no violão. Só para dizer que um dia já toquei com Freddie Mercury – uma honra! 

(Direitos reservados ao autor. Publicado na coluna INFORME CULTURAL do jornal O ALERTA, de Itaboraí - RJ. Obs.: na versão original do texto, o nome do cantor do Queen estava grafado como "Fred", o que foi corrigido por uma atenta leitora, depois de mais de 550 acessos ao texto, para "Freddie", o seu verdadeiro nome artistico, como está no site oficial do Queen.)