CAPÍTULO XXVIII - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar

(Bertolt Brecht)

O dia primeiro de junho de 2010 – dia de muita expectativa entre os servidores públicos do Judiciário Federal e do Ministério Público da União - ficou conhecido com diferentes nomes entre nós. Batizamo-lo, por exemplo, como o dia do “apagão”, o dia da “vuvuzela”, o dia do “barulho” ou, simplesmente, o Dia Nacional de Luta.

Em torno de 600 servidores se concentraram na Capital mineira em frente ao prédio da Justiça Federal. Encontravam-se munidos de apitos, cornetas, vuvuzelas, alegria, muita saúde e disposição.

As vuvuzelas são as conhecidas cornetas com cerca de um metro de comprimento usadas pelos torcedores nos jogos de futebol da África do Sul. A origem do nome é controversa, mas o importante no caso é de fato o barulho e o incômodo que elas e suas compatriotas (os apitos, as cornetas e os assovios) são e foram capazes de fazer nesse dia por todo o Brasil em prol da aprovação do nosso plano de cargos e em repúdio à tentativa de congelamento do salário dos servidores públicos brasileiros por mais dez anos.

Receberam aplausos, apitaços e cornetaços os colegas oficiais de justiça, as caravanas de servidores vindos do interior (Contagem, Congonhas e Sete Lagoas) e, em especial, os servidores e as servidoras aposentadas que se encontram igualmente engajados na aprovação do nosso plano de cargos. A colega Gilda Bandeira mandou o seu recado para todos nós, servidores da ativa:

- A luta dos aposentados de hoje garante os direitos de amanhã dos ativos. Vocês (os ativos de hoje) são os aposentados de amanhã!

Fernando Neves saudou a importante e sempre constante presença dos aposentados na greve, conclamando pela presença de mais e mais colegas. Afirmou ainda que:

- O nosso ato está bonito e a nossa greve é um sucesso, está ordeira e legal.

O ato de hoje contou com a presença artística dos nossos músicos e de um grupo de teatro. Três integrantes da Companhia de Teatro Dino Marangoni encenaram para os servidores uma peça curta e cômica cujo enredo era o seguinte: durante o expediente de um dia normal de trabalho, dois servidores vão discutindo acerca da importância da greve e de suas possíveis presenças no movimento.

Em seguida, entra em cena um terceiro integrante da Companhia. Esse último faz uso de longas pernas de pau e representa um deputado que se dispõe a ajudar na aprovação do plano de cargos e salário dos servidores.

Logo o deputado telefona para um senador e informa que os servidores estavam de fato “em greve” e que era melhor aprovar rapidamente o tal projeto.

- Os servidores estão mesmo em greve - repete ele por três vezes no celular invisível que leva em suas mãos – é melhor aprovar logo o plano!

Os manifestantes aplaudiram bastante a apresentação. Foi mesmo um sucesso. O foi elaborado com muita criatividade e inteligência. Parabéns aos integrantes da Companhia de Teatro Dino Marangoni, nota dez na apresentação e na defesa dos nossos interesses.

Outro ponto importante neste ato do dia 01/06 foi a análise da Portaria Conjunta nº 01, publicada pelo TRT da 3ª. Região no dia 27 de maio de 2010. Essa portaria versa sobre os serviços a serem mantidos na greve e trouxe dúvidas e o receio entre os manifestantes a respeito de um possível desconto de salários dos dias em greve.

Contrabalançando a referida portaria, tomei conhecimento de um importante documento vindo da Bahia: uma Declaração Conjunta publicada em Salvador no dia 25 de maio pelos Presidentes do TRT, do TRE e do TRF daquele estado.

DECLARAÇÃO CONJUNTA NO. 01/2010

Na qualidade de dirigentes máximos que integram os órgãos do Poder Judiciário Federal do Estado da Bahia, declaramos o nosso apoio ao Projeto de Lei referente ao Plano de Carreira dos Servidores do Poder Judiciário da União, em tramitação no Congresso Nacional, sob o no. 6613/1999, uma vez que sua proposição, além de decorrer de estudos empreendidos por comissão composta por representantes do Supremo Tribunal Federal, do Conselho Nacional de Justiça, dos Tribunais Superiores, do Conselho de Justiça Federal, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, tem como objetivo aprimorar as políticas e as diretrizes estabelecidas para gestão de pessoas, bem assim solucionar os principais problemas relacionados à questão remuneratória dos integrantes das carreiras judiciárias, cuja estrutura se apresenta defasada em relação a outras carreiras de Estado, revelando-se, assim, em justo anseio da categoria.

Nesse primeiro dia de junho de 2010 aconteceram muitas manifestações por todo o Brasil. Em Brasília, por exemplo, tivemos a presença de cerca de quatro a cinco mil servidores diante do edifício do Ministério do Planejamento. Disseram que o barulho lá estava insuportável, mistura de apupos, apitaços, cornetaços e do descomunal som produzido pelas inumeráveis vuvuzelas presentes.

Nas ruas de Brasília os manifestantes gritavam as seguintes palavras de ordem:

- PCS já! Servidores na rua, Bernardo, a culpa é sua!

O movimento foi encerrado em Brasília com um abraço simbólico ao bloco onde se localiza o gabinete do Ministro do Planejamento.

Outras dezenas de manifestações ocorreram em pelo menos dezoito capitais de estados e em muitas cidades pelo interior do Brasil onde se localizam as varas do trabalho. Como exemplo de capitais, temos: Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Manaus, São Luiz, Maceió, Cuiabá, Campo Grande, Teresina e Recife.

Luís Antônio Matias Soares
Enviado por Luís Antônio Matias Soares em 03/09/2010
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