Com a rapinagem no currículo

Na minha cidade, na sua, nas de todos os brasileiros há sempre candidatos reconhecidamente picaretas. Aqueles que fazem descaradamente a política da rapinagem. E não fazem muita questão de esconder isso. Vencem eleições vendendo voto, promovem todo o tipo de falcatruas e roubalheiras quando estão no poder, deixam a cadeira suja de m* para seu sucessor sentar e ainda têm a ousadia de gritar aos quatro ventos que fez e aconteceu em favor do município. Em favor dele, vamos corrigir.

Você conhece algum político assim; todo o mundo conhece. Eles estão aí, com as caras estampadas em milhares de placas pelas ruas. Aqueles rostos bem feitos, retocadíssimos pelo photoshop, para ficarem com ar bem simpático, jovial e convincente. Só não conseguem ficar tão bem assim na propaganda política da TV, porque o tempo é curto, o discurso é sempre péssimo, e o cara mal consegue convencer o eleitor inteligente falando devagar, imagine atropelando frases.

Quem pelo menos acompanha a política, lê rapidamente jornais, observa o que acontece a sua volta, reconhece - ou deveria reconhecer - um político picareta. Ele aparece e desaparece conforme seus interesses; está sempre cercado por pessoas que são ou já foram usurárias do dinheiro público; é bancado por gente com claros objetivos de receber seu investimento em dobro após a eleição; possui síndrome de cara-de-pau congênita.

Aqui na minha cidade há vários desses. Alguns se destacam mais que outros. Há os mais antigos, raposas da politicagem provinciana, conhecidíssmos e até folclóricos. Há também os mais novos, com poucos anos de circulação nas beiras do poder, mas já trazendo grande conhecimento do manual “Como fazer o povo de bobo em apenas um mandato”.

E o pior, pior de tudo isso, é que não é só o povão inculto e desinformado que cai nessa balela. Fiquei chocada ao ver um baita adesivo de um desses candidatos no carro de uma amiga honesta, caráter limpíssimo, defensora da igualdade social e da ética. Não sei até agora se fiquei decepcionada com ela ou triste por ela. Talvez eu vá morrer sem saber se ela tornou-se ignorante da noite para o dia, ou se precisou de uma grana de repente, ou se tem alguma promessa mirabolante escondida atrás de tão estapafúrdio apoio.

Mais uma vez, o desânimo. Mais uma vez a sensação de que terei que fazer cada vez mais esforço para abrir os olhos do meu filho, para que ele seja diferente, para que seja astuto na observação do comportamento humano, para que saiba escolher de amigos a governantes e legisladores. E o que posso fazer por mim é escrever, é opinar, pois vale pelo menos como desabafo, além de torcer, claro, com os dedos cruzados, para que tais candidatos voltem da experiência nas urnas apenas com o gostinho amargo da derrota.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 03/09/2010
Código do texto: T2475908
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