O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM, CORAÇÃO NÃO SENTE!

Estamos em Uberaba, cidade do triângulo mineiro. Cujo termo de origem tupi-guarani significa águas claras e brilhantes. Curiosamente, a topografia da cidade guarda semelhança com a de Roma, pois tem sete colinas. Atualmente, mais de trezentas mil almas se misturam nessa urbe mineira. Grande centro de criação de gado zebu abriga duas universidades, uma federal e a outra particular. Entretanto, é lugar de muita concentração de renda. Haja vista, os latifúndios de criação de bovinos e as plantações extensivas de cana de açúcar.

Essa estória refere-se a um fato ocorrido na década de 60, que retrata um pouco a mentalidade dos grandes fazendeiros da época, tendo como personagem principal um senhor chamado Jesuíno de Freitas Barbosa. Milionário, fazia conta de um “tostão”, dono de 40 mil cabeças de gado nelore e de milhares de alqueires de terra. Apesar disso, era um velho agradável no trato com as pessoas.

Em determinada ocasião, Jesuíno precisou contratar um peão para trabalhar em uma de suas fazendas. Foi à rua do comércio, no centro da cidade, mais precisamente na “esquina do barulho”, onde era agenciada mão de obra rural. Entre diversos candidatos selecionou um rapaz magro, tímido e de cor negra. Combinou levá-lo de manhã cedo para sua propriedade rural, para mostrar o serviço e tratar o salário. No dia seguinte, já na fazenda estabeleceu a tarefa diária que seria designada ao pretenso empregado. Depois, apresentou-o para o restante do pessoal.

Na hora de combinar o salário. O rapaz perguntou: quanto o senhor vai me pagar? Um salário mínimo, respondeu tranquilamente o velho fazendeiro. Ah, seu Jesuíno, assim não dá! Muito pouco dinheiro prá muito trabalho e continuou falando: labutar de sol a sol, de domingo a domingo, para ganhar só essa “tutaméia?” Jesuíno retrucou: Sei que não é muito, meu rapaz. Entretanto, vou lhe dar casa prá morar, e é o que todo mundo ganha por aqui. Logo, você não tem o que reclamar! Bem, seu Jesuino, não vai dar mesmo prá eu ficar. Em seguida, completou contrariado: esse povo aceita ganhar essa miséria, porque eles roubam do senhor. O velho homem olhou demoradamente pra ele e finalizou: Uai, isso não é problema, você rouba também!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 03/09/2010
Reeditado em 03/09/2010
Código do texto: T2476375
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