A orquestra decidida e desastrada

Raramente respondo a esses e-mails que pululam em nossas caixas de entrada e que atacam, ora um, ora outro lado da política. Às vezes, quando o exagero é demasiado, a radicalização e a falta de bom senso patentes, escrevo o que penso. Para me incomodar, “por supuesto”.

Um desses, apavorado e cheio de ira santa, anexa vídeo de setor da igreja católica que faz denúncias contundentes ao conteúdo do Plano Nacional de Direitos Humanos. Leitor da mensagem contesta com certa propriedade. Até um ponto; perde-se ao dizer, por exemplo, que Fernando Henrique é o responsável pela fome no Brasil (Hein? Hein?) e que, para formatar o Plano, foram ouvidas todas as pessoas. Todas, quem? Aquelas que participam de congressos organizados pelo governo ou as que, incondicionalmente, concordam com seus “amados líderes? Sabemos como funciona: a maior parte dos documentos aprovados são redigidos antes da eventual discussão que, quando feita, é totalmente direcionada, isso se há debate.

Empolguei-me, vamos lá, vejam que mimo escreve: “A atual campanha de difamação da candidata Dilma é orquestrada e não condiz com a verdade”. Tadinha da Fantoche, digo, da Dilma! Orquestrada? Difamação? Estamos numa campanha eleitoral e é importante mostrar o que os candidatos pensam e pronto, e as organizações religiosas têm o direito de se manifestar sobre o que acreditam. Se têm ou não razão, cada um que decida.

Vira e mexe, falam do passado terrorista de Dilma como se isso manchasse sua biografia, esquecendo que, na época, havia um terrorismo terrível que usava as instituições destinadas a defender o cidadão para oprimi-lo. O que mancha é que, agora, esse mesmo governo que combateu aquela situação usa as instituições que deveriam ser um exemplo de retidão para orquestrar ações para denegrir os adversários. Há uma orquestra dentro do governo destinada a encontrar e, principalmente, criar acusações contra todos os que se opõem a ele. Isso é terrorismo do mais vil. Uma orquestra desafinada, mas decidida e sem escrúpulos, e que toca uma música horrível.

Tem dia que me envergonho de não ser de extrema direita!