R$ 90 milhões

Semana passada tivemos mais um mega sorteio da Mega-Sena. Desses que acumulam e deixam os brasileiros com cifrões no lugar dos olhos. Como não costumo acompanhar o assunto, só fiquei sabendo do prêmio acumulado na sexta-feira e não tive mais tempo de fazer uma fezinha. Mas não deixei de pensar no que R$ 90 milhões mudariam a minha vida!

A noção do que significa a quantia é tão precária, que pela minha cabeça passaram desde o antigo projeto da obra no quintal, da construção de um escritório / estúdio no andar de cima, até o sonho da maioria: trabalhar jamais. Viagens por todo canto, escolher um carro novo com a ponta do dedo (“quero este”), muito tempo para ler, mandar descer a vitrine de sapatos e “vou levar todos!”, enfim, desejos cotidianos, risíveis diante dos rios de dinheiro que são R$ 90 milhões e da montanha de problemas que podem trazer junto com a realizaçao de todos os sonhos. Mas não nego que seria ótimo pegar um avião ali no Tom Jobim em qualquer dia da semana e visitar um amigo em Florença, na Itália, sem preocupação.

Pensar no que faria e no que não faria é um bom exercício, no mínimo engraçado. Imaginamos fazer todas aquelas coisas que vemos no cinema ou nas novelas. Nós mulheres, por exemplo, possivelmente nos vemos vestidas de gala, em festas glamourosas, ou gastando os tubos na Times Square, em Nova Iorque. Casa na praia, apartamento em Paris, iate, helicópetro, jatinho... É. Tudo isso a gente vê no cinema e na TV. Mas, e a vida real? Como seria ter R$ 90 milhões na conta bancária da noite para o dia? Levantaríamos cedo para levar o filho à escola? Lembraríamos de cuidar dos cachorros? O que seria uma vida normal, com tantos reais a mais na minha vida?

Já até imagino você, leitor, “Ah, quem é que pensa em vida normal com tanta grana no bolso? Quem é que se preocuparia com isso?” Nas primeiras semanas, ou meses, tudo é empolgação. Uma grande viagem, um belíssimo passeio para descansar e até mesmo pensar no que fazer com a novidade. Mas, e depois? A vida tem de continuar, os filhos precisam ser educados, os cachorros precisam comer e beber. Empregados? Sim, claro que eu teria empregados! No entanto, seria realmente fácil me acostumar com tudo isso?

Novamente você, leitor, argumentaria “Quem é que não se acostuma com vida de milionário?”. Eu respondo: poucos. Segundo pesquisa realizada nos Estados Unidos, cerca de um terço dos ganhadores de loteria entram em falência apenas alguns anos após receberem os primeiros milhões, fora os que enlouquecem e acabam nas drogas ou no suicídio, porque não sabem o que fazer, não conseguem se habituar à vida de rico que tem nada pra fazer. E ainda há o risco de ser assassinado pela amante ou alguém muito próximo.

Não tivemos um ganhador único no último sorteio. Sete felizardos vão rechear suas contas bancárias com R$ 13,2 milhões, por acertarem as dezenas 3, 15, 31, 36, 48 e 54, a maioria de municípios do interior de São Paulo. Outros 981sortudos acertaram a quina e vão levar R$ 10.616,29. A quadra foi para 44.163 apostadores e vai pagar R$ 336,88 para cada um.

Nada mau que uma boa quantia me caísse de repente nas mãos. Mas, sinceramente, não sei mesmo se tantos milhões me fariam bem ou não. Meus problemas seriam resolvidos, mas, de novo a pergunta, e depois?

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 05/09/2010
Código do texto: T2480753
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