Abrir a porta em pleno voo (suicídio)

Na madrugada da última segunda-feira, um passageiro se sentiu mal e tentou abrir a porta do avião em que viajava de São Paulo para Jão Pessoa. Imaginem o tumulto.

Como é que alguém aparentemente sereno, saudável, de repente levanta do seu assento e tenta pular fora sem levar em consideração as consequências?

Poucas coisas são tão angustiantes quanto se sentir preso a uma situação desconfortável. Há quem faça loucuras menores, mas ainda assim loucuras, como sair de um carro em movimento, sem esperar que ele pare. Temos pressa em nos desvencilhar do que é violento. Não estou falando de tentativas de agressão, estupro, em que fuga se faz necessária. Estou falando de violência psicológica. É quando a mente não consegue mais nos ajudar a contemporizar, esperar, relevar. Ela nos deixa totalmente na mão. Apenas ordena: corra!

Abrir a porta em pleno voo é uma metáfora perfeita para situações-limite.

Mas seria mais prudente sair fora com algum planejamento e enquanto ainda resta um pouco de juízo. Em vez de terminar uma relação simplesmente SUMINDO, melhor seria ter a cortesia de se despedir, o que iria ser lavado em conta no caso de um arrependimento. Em vez de sair do emprego explodindo com o padrão melhor mandar uma mensagem por e-mail dizendo "venho por meio desta...", deixando a porta aberta para uma nova oportunidade mais adiante. A empregada que não vem trabalhar na segunda, nem na terça , nem na quarta deixa para trás seus direitos e uma boa carta de recomendação. O adolescente que briga com o pai e desaparece levando uma mochila rompe um laço que um dia lhe fará falta. O pai que também abandona a família rompe um laço que, mesmo que não lhe faça falta, fará aos filhos. Nada como aguardar o momento certo de dar ADEUS, saindo com calma, explicando os motivos e dizendo até logo, em vez de abri a porta em pleno voo sem pensar um segundo no parceiro(a) de viagem.

Sair esbaforido é quase sempre um suicídio com riscos não calculados.

(*)CRÔNICA DE MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA QUARTA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2010

Bela crônica que me tocou profundamente.Fiz questão de postar.