A Banalidade do Mal
 

A filósofa Hannah Arendt cunhou essa expressão a partir da cobertura do julgamento de Adolf Eichmann, genocida nazista e a utilizou para explicar o comportamento desse criminoso de guerra: segundo ela, alguns indivíduos agem de maneira cruel contra outros seres humanos não por serem essencialmente maus e sim porque para eles é certo cumprir ordens. Ela não estava justificando nem inocentando os seus atos, apenas compreendendo. Para ela Adolf Eichmann era um funcionário burocrata incorporado a um sistema que se baseava em atos de extermínio e suas atitudes não eram racionais – apenas cumpria ordens superiores. Com isso ela quis dizer que, qualquer pessoa, dessas que consideramos normais e que durante toda a vida teve um comportamento liso, pode fazer coisas tremendamente ruins desde que esteja inserida em um contexto propicio. Isso faria parte da natureza humana. O que não deixa de ser triste constatar. Mas difícil de refutar.

Lendo sobre isso meu pensamento foi longe e, independente de concordar ou não com ela, fiquei mais uma vez pensando em como nós somos seres mascarados – ou seja: usamos várias máscaras em nossa vida, seja ao longo dos tempos ou em tempo simultâneo e isso nos leva a tomar atitudes contraditórias,  a ser bom e mau ao mesmo tempo, dependendo da máscara que estivermos usando.

Estamos sempre inseridos em comunidades variadas. Temos família, religião, amigos, empregos. Em cada uma delas podemos vir a ser uma pessoa diferente e agir ali conforme se espera de nós. Não vou escrever um tratado sobre o assunto, pretendo apenas que esse texto seja uma crônica, portanto em vez de dar um milhão de exemplos para explicar esse ponto de vista, convido a quem estiver lendo que faça isso, relacionando a idéia com sua própria vida, com a vida ao seu redor.

Vou dar um exemplo, porém: um jovem que em casa tem um temperamento tranquilo, porque tranqüila é a vida de sua família, pode tornar-se um verdadeiro terror dentro de uma sala de aula, para cair nas graças de um grupo onde a liderança impõe valores que não são o de sua família. Já temos aí duas máscaras para serem usadas.

Um dos maiores fornecedores de máscaras para indivíduos frágeis é a vida dentro do ambiente político-administrativo onde a moral funciona de acordo com o fim a que se propõe: o Poder. É incrível como a ânsia do Poder, ou apenas de estar nas bainhas do poder, transforma as pessoas. O honesto se transforma em desonesto de um minuto para outro e não se sente desonesto. Ele apenas está fazendo o que os outros fazem, cumprindo ordens ou seguindo o padrão. 
 
O trabalho de Arendt é profundo e vasto e ultrapassa em muito essas poucas e rasas reflexões a que fui levada, mas aqui tomo caminho próprio porque ouso falar de coisas que aprendi na vida e uma delas a que acho de maior importância: a individualidade.
Acredito que só nos transformamos em massa de manobra por uma única razão: a falta de coragem para nos livrarmos de todas as máscaras e sermos realmente quem somos, para o bem ou para o mal.

E sermos realmente quem somos implica em nos conhecermos realmente, sabermos quem somos e isso se consegue através dessa busca pela individualidade.

Aquele que sabe quem é não precisa de máscaras e, portanto é capaz de reagir contra qualquer atitude que vá contra os seus direitos, a sua dignidade e a sua honra. Esses são os grandes homens, aqueles que se conhecem realmente. Temos inúmeros exemplos desses indivíduos que souberam reagir e por isso conseguiram vencer o sistema, mas não posso negar que são menos do que precisamos.Dou um exemplo porém: Ghandi.
 
Dentro da própria história do nazismo e de sua imperiosa necessidade de controlar o mundo, encontramos situações fascinantes em países onde houve resistência a esse domínio, que também era o domínio do Mal. Mas, isso é assunto para outro dia...

Antes de terminar preciso apenas dizer que embora eu escreva bastante sobre a necessidade de se reconhecer um indivíduo único através do autoconhecimento, eu estou ainda muito longe de jogar todas as minhas máscaras fora. Mas, eu não tenho pressa. A eternidade é eterna e os caminhos são múltiplos. Um dia, seja daqui a anos ou daqui a séculos chegaremos lá...
 
 
 
 
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