AS TIAS

Como uma visão do inferno, lá estavam elas: as tias de Viamão. E ele, que sempre achou que o inferno fosse um domingo com chuva gelada... Mas isso era bem pior. Já na entrada pôde sentir o perfume de lavanda e talco que vinha do fundo do restaurante, na mesa reservada para a família. Apenas torcia para que não tivessem marcado lugares e que, por azar, tivesse que se sentar ao lado delas, as feras do fogo eterno. Enquanto se encaminhava para a mesa com sua esposa e seus dois filhos, pensou que era uma contradição que criaturas que vieram diretamente do jardim da perdição tivessem aquele cheiro de banheiro limpo.

Quando se aproximou da mesa, elas não puderam se controlar e pularam em seu pescoço como vampiras sedentas em busca da veia principal e encheram suas bochechas com beijos melosos e dolorosos. Vociferavam em voz alta os mesmos comentários de sempre: “Como você está lindo!”, “Um galã!”, “Esse nosso sobrinho parece artista de cinema!”, “Jussara, você é mesmo uma mulher de sorte.” Jussara, que gostaria de ter cometido suicídio naquela manhã para não ter que ir àquele almoço em família, cumprimentava a todos com um sorriso amistoso, levantava as sobrancelhas e dizia: “E eu não sei que ele é lindo...?”.

Felizmente, ele não sentou-se ao lados delas. Aproveitou um momento de hesitação de Jussara, que não foi rápida o bastante, e sentou-se no último lugar de uma das laterais da mesa. Ao seu lado, somente o vazio. Ou, como ele preferiu chamar: "o caminho da fuga." Jussara sentou-se ao seu lado, mas não sem antes lhe lançar um olhar fundo e fulminante, deixando bem claro qual seria a primeira da lista de críticas a fazer mais tarde, a caminho de casa. “E as crianças? Vão sentar aonde?”, perguntou uma das velhas. “Elas são jovens. Elas sabem se cuidar. Elas vão sobreviver.”, pensou ele.

Com todos acomodados na mesa, as tias, a esposa, a mãe, os irmãos, alguns sobrinhos e o Duke, o almoço foi servido. Duke era o cãozinho de uma das tias. “Talvez esse animal seja o guardião dos portões... Deixa prá lá.”

O almoço estava indo bem. As tias falavam sobre a saúde. Delas e de todas as suas vizinhas, que existiam apenas na imaginação dos presentes e talvez até mesmo, somente na imaginação delas. A situação econômica do país, a casa nova do Alfredo, a última viagem para Camboriú, a obediência de Duke...

O garçom trouxe a conta. As tias não deixaram ninguém pagar. Tiraram de suas bolsas, bolsas menores, recheadas de notas. Por um momento, pensou que elas não eram de todo o mal. Com certeza não as convidaria para tomar mais um cafezinho na sua casa, mas não eram assim de todo o mal. Todos se despedem. Mais beijos sonoros e dolorosos. Mais abraços perfumados. Mais dois anos, pelo menos, antes de encontrar de novo as tias de Viamão.