corta como faca

Sem sentido, motivo...o gosto amargo de lembranças do que penso não ter vivido,

lembrança de beijo, de cheiro, de toque,

caminhos, casas, sons,

só, estou só, perdido em pensamentos, que nem sei ao certo se são projeção de um mundo real à minha volta, ou se são apenas produto da minha loucura.

pode o poeta fabricar as próprias dores?

pra que servem meus versos se não conseguem arrancar os parasitas que penetram meu cérebro sugando minhas endorfinas e injetando venenos que fazem doer a nuca, que me queimam a pele e me amarram neste chão putrefato?

quero voar!!!

preciso, sinto que preciso!! pareço um pássaro de ferro de asas enferrujadas parado em algum aeroporto a espera de manutenção.

não quero ainda fazer parte deste chão temperado pela escória de todos nós,

ainda não quero conviver com os vermes que me esperam...

também não quero mergulhar nesta prática dos vermes humanos,

o convívio com eles me estimula uma necessidade vil de ser igual a eles...

Não, não quero!!

não quero mais rasgar os ventres do passado,

cortar as cabeças de tempos inglórios,

deixar de lado a necessidade de limpar a tela de minhas vaidades...

que o convívio com minhas dores, tão minhas, me faça nelhor antes que eu expire e volte ao tribunal dos impuros para rastejar o chão das redenções eternas.

Oh! Deus não tira de mim a dor, faz com que ela me arranque, com a força dos tornados, os vícios que me atormentam a alma antes que eu volte...