A velha luta entre garçons e clientes na hora de conferir a conta

Quando as piadas ainda se chamavam anedotas, elas se dividiam em pesadas e de salão.

Nestes tempos em que só existem piadas pesadas, contadas até diante de vovozinhas, me lembro de uma antiga e singela: O garçom entrega a conta e o freguês percebe que veio a maior. O único item estranho é “c. cola", e a mesa só bebeu chope. O freguês pede uma explicação ao garçom, que na véspera cumpriu a obrigação de se confessar na igreja e o padre recomendou que não podia mais mentir. Aí a resposta honesta saiu: Doutor, “c. cola" não é coca-cola, é ci colá...

Divertir é a forma que os brasileiros encontram para conviver com o velho costume de bares e restaurante de inchar a conta dos fregueses.

Principalmente quando o álcool relaxa os neurônios ou quando a mesa é muito grande.

Levei meu pai a uma lanchonete do bairro Santa Tereza (Belo Horizonte) especializada em caldos, mas ele já estava de estômago cheio e só me acompanhou no chope.

Mesmo assim a conta chegou com a cobrança do caldo que ele nem experimentou (o formato era self-service, preço fixo).

O garçom pediu desculpas pelo engano, mas por que é raro um engano a menor?

E a frequência é tão grande no Brasil que alguns bares criaram métodos de controle-cliental para tranquilizar os chatos-conferidores, como anotar na mesa ou usar alguma geringonça mecânica.

E por falar em chope, já virou uma rotina o garçom/nete oferecer mais um sempre que o copo estiver esvaziando.

Até aí, nada de mais, o problema é o exagero: fazem isso até quando você já limpou os beiços e também nos almoços de comida a quilo, situações em que o freguês raramente vai aceitar.

E voltando à questão da conta errada para mais, não aconselho a nenhum brasileiro usar o método de um agora aposentado colega de trabalho.

Ele tinha vergonha de sair conosco pois considerava a conferência de conta uma “falta de classe”.

Nosso classudo companheiro – que em outras situações era capaz até de agir invertendo a ética – fazia até questão de dar um extra, além dos 10% de praxe, para fazer amizade com os garçons e ganhar algumas prioridades.

Nada contra as gorjetas, mas deixar de conferir a conta num país como o Brasil é dar asa pra cobra.