Vésperas, outra vez.

E o mesmo filme reprisa sem dó e com pressa.

Nascimento, infância, adolescência estranha e quase adulta...

Os sonhos realizados, os outros tantos refeitos, transformados... Alguns mortos, outros suicidas, alguns abortados pouco antes de serem concebidos... E muitos outros e tantos a serem conquistados, vividos...

Às tantas da manhã, ainda derrama lágrimas sabendo bem de quê e acorda com sorriso feito e sincero. É dela uma boba alegria de viver.

Abraça com os braços estreitos o que lhe é bem quisto, bem vindo. E aperta, quase sufoca, o que lhe são garantias de lembranças doces.

É estranha. Uma dualidade sem fim, uma contradição sem norte...

Às vezes é não, às vezes é só sim.

Mas deixou há quilômetros e há anos todas as certezas... Demorou, mas hoje finge que entendeu que as certezas se desfazem... Embora a sua certeza nunca tenha se desfeito...

Tem nos olhos o mesmo brilho. Só que, às vezes, o opaco da razão o emudece.

E, embora ainda não saiba se é bom ou ruim, é teimosa a ponto de reinventar todos os seus passos, às vezes cansados, só para viver uma vida inteira.

Anda com medo dos “tics e tacs” do seu relógio. Ela tem tanta pressa que aprendeu a seguir só, caso alguém demore muito para ir.

Porém, vive a reclamar falta do abraço... do colo de quem nem precisa ouvir nada. Apenas sentir este coração que desaprendeu o ritmo e desacelera todas as paixões.

Vésperas... e, amanhã é primavera. O que nem é preciso para quem tem suas flores brotando todos os dias... E dos espinhos, faz arte com dor ou, com cicatrizes... Só nunca deixa de plantar as sementes...

Ela não sabe muito de nada... E nem pouco de tudo... Mas celebra sempre o viver...

Vésperas... e amanhã, mais uma primavera...