O MISTÉRIO DO GATO SIAMÊS

O MISTÉRIO DO GATO SIAMÊS

Num aconchegante município deste nosso imenso país, residia uma linda senhora e suas duas filhas, morava com elas um belo e felpudo gato siamês.

Seus olhos eram azulíssimos e brilhantes, seus pelos sempre sedosos e limpos, pois eram regulamente lavados e escovados pela filha caçula que o amava, em suma, era o xodó de todos e atendia pelo nome de cisso.

Não se pode deixar de destacar sua habilidade em pular e caminhar sobre muros e telhados era um verdadeiro equilibrista, causaria inveja ao mais experiente acrobata, manhoso, peludo e dengoso, adorava brincar e rolar pelos tapetes macios da casa. O gato cisso, querido e amado, era um talismã, todos o adulavam. Mas este pequeno e esperto animal, apesar de toda alegria que transmitia às pessoas, era detentor de certos hábitos que deixavam seus donos por demais surpresos; Senão vejamos:

Sua dona, percebeu que todo domingo e somente aos domingos, o animal desaparecia. Tudo começou quando agendaram um passeio ao litoral com saída prevista para as oito horas. Após ajeitarem a bagagem no veículo, a caçula chamou o bichano, gritou seu nome por várias vezes, e como não foi atendida, acercou-se de sua mãe que já estava atrás do volante pronta para sair e disse com olhos lacrimejantes:

--- O cisso não me atende. Sua mãe com naturalidade fez a seguinte observação:---Deixe-o, não precisamos leva-lo.

Surpresa a menina contestou as palavras da mãe dizendo com voz chorosa: ---Sem ele não irei. – Conclusão: O passeio foi adiado.

Foi dessa forma que sua dona descobriu os hábitos inusitados deste animal, que apareceu na segunda feira de manhã, miando, brincando e pulando pelos tapetes, como se nada houvesse acontecido. Se não bastasse, cisso também tinha mania de levar pa sua casinha, panos e trapos que encontrava, isto foi comprovado por sua dona quando fez uma vistoria em sua pequena casa, retirou os trapos e os jogou no lixo. Qual não foi sua surpresa, ao dar nova olhada onde o gato dormia, os panos que jogara no lixo no dia anterior, estavam de volta. Todos estes pequenos detalhes, não passaram despercebidos pela proprietária do gato, pois é uma mulher determinada e foi esta determinação que a levou a tomar uma decisão: A partir deste momento, observaria o gato com maior atenção.

Após ter comprovado que o gato continuava com seu sumiço misterioso e semanal, optou por segui-lo. No quarto domingo consecutivo, acordou bem disposta e vestiu trajes leves, pois não sabia o que a aguardava. Sentiu-se um pouco ridícula no papel de perseguidora de gatos, mas foi em frente com seu projeto, e dizia consigo: Hoje é o dia.

Cautelosamente, dirigiu-se para a garagem onde o gato dormia, torceu para encontra-lo, pois receava que ele já tivesse debandado, ficou contente, pois o bichano se encontrava na porta de sua casinha, seus olhos azuis brilhavam, mas o que mais chamou atenção, eram os trapos que o gato mordia, alguns por serem maiores, arrastavam pelo chão, e ele pacientemente os acomodava em sua boca. O animal, esgueirou-se furtivamente por baixo do carro e pulou agilmente o muro ganhando a rua, tudo isto sob o olhar atento de sua dona, que com decisão, destrancou o portão e saiu em seu encalço.

Após meia hora de intensa perseguição por ruas e vielas, chegou a uma malharia abandonada, perdera o animal de vista, pois este ao chegar em frente à fábrica, saltou um pequeno muro e se embrenhou sobre os arbustos que tomavam conta do local. Mas ela não se deu por vencida, estava disposta a descobrir o segredo, pulou o muro com certa dificuldade, e se encontrou num pátio concretado que já se desintegrava pelo tempo.

Prendeu a respiração, pois ouvira ruídos, estática e com todos os sentidos alertas, apurou os ouvidos, pois tornara a ouvir gemidos. Seguiu em direção a uma espécie de galpão, e o quadro que se apresentou à sua frente, fê-la se arrepiar. Depois do susto, conseguiu se recompor e contou deis gatos, oito filhotes, uma gata diferente que parecia ser a mãe e o próprio cisso. Os animais surpreenderam-se com a visitante inesperada, onze pares de olhos, se encaravam estupefatos. Passado este momento de surpresa, a mulher olhou ao redor e pode ver os trapos que antes estavam na casinha do gato, ele os trouxera para aquecer os filhotes.

Cisso quebrou o silêncio com um forte miado, aproximou-se de sua dona, parecia querer apresentar a família, a mulher compreendeu, chegou mais perto e pode perceber a beleza da prole, todos de olhos azuis, felpudos e dóceis.

A gata se empertigou enciumada, e quando se levantou, a mulher compreendeu tudo imediatamente, conhecia aquela gata, era a mesma que certo dia aparecera em sua casa e foi literalmente enxotada, pois suas filhas não queriam mais que um gato, além de que, aquela gata tinha apenas treis patas.

Condoída com a situação dos animais, ela vislumbrou entre vários objetos obsoletos, um caixote, recolheu com mãos firmes e resolutamente colocou dentro os gatinhos, os pais assistia a tudo com desconfiança, mas não esboçaram nenhuma reação, parecia terem entendido a intenção de sua dona.

Após ter recolhido toda família, a mulher dirigiu-se para sua residência, que a partir de agora, teria nove moradores a mais.

Daniel de Castro Rebelo é Membro da Academia Jacarehyense de Letras, autor de vários romances, entre eles, ‘’Pão com Mortadela’’.

daniel de castro
Enviado por daniel de castro em 26/09/2006
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