APARÊNCIAS NADA MAIS

Elegância é um predicado que nem todo mundo tem. A pessoa elegante é aquele que tem postura, bom gosto, encanto no trajar, no dialogar e nas 24 horas do dia está sempre se portando educadamente e com bom humor.

A Rafaela era o exemplo de mulher elegante. Uma pessoa discreta, de bom senso que sabia combinar muito bem as peças que vestia. Seus gestos possuíam uma leveza que se harmonizava com seus movimentos.

Era uma bela mulher no seu contexto geral. Fina, educada, elegante. Do tipo que valorizava um presente não só pelo seu conteúdo, mas, sobretudo pela embalagem que traduzia o carinho contido no presente.

Tudo caia muito bem na Rafaela. As bijuterias baratas em suas mãos, braços e pescoço aparentavam uma jóia de valor incalculável. A bela mulher tinha passos firmes, andava no salto com elegância causando inveja àquelas que não tinham tal destreza.

E foi assim com todo esse garbo que Rafaela tomou o ônibus do Catanduva com destino ao centro cidade. Subiu elegantemente os três degraus embora a mão direita tivesse ocupado com uma pequena sacola. A sacola não fugia os padrões de Rafaela, um papel brilhoso cinza, escrito com letras garrafas “Hstern”, nome de joalharia de prestígio internacional. A alça era de fio grosso de seda trançado, dando um toque especial àquela embalagem.

Rafaela sentou - se na única cadeira vazia. Deixou a bolsa descansando em seu colo e com as duas mãos segurava a pequena sacolinha da joalheria. Ninguém duvidava que ali tivesse uma peça de grande valor, não só pelo cuidado da moça com sacola, mas também pelo seu perfil que caracterizavam – a como amante do ouro em suas mais diversas formas e modalidades.

O trajeto do Bairro Catanduva até o Centro da cidade era um tanto longo. A cada parada subia mais e mais passageiros. Descia um subiam três, assim não havia assento para todos. O corredor ficava apertado. Mais uma parada e quatro jovens adentram Roupas de grife, piercing, olhos vermelhos, tipo esquisito, em fim mal encarados.

Não deu outro, o assalto foi anunciando. Rafaela apertava ainda mais contra a si a bolsa e a dita sacola demonstrando medo e nervosismo. Um apontava a arma os outros recolhiam os pertences valiosos dos passageiros. A bolsa da elegante mulher nem foi subtraída pela pressa, mas aquela sacolinha da joalharia foi.

Passado o susto Rafaela ria muito. Todos achavam que estava em estado do choque, mas só ela sabia o verdadeiro motivo. Os larápios trocaram a sua bolsa com dinheiro em espécie, talão de cheque e outros pertences de valor por uma suposta sacolinha contendo jóia.

Na verdade Rafaela estava se dirigindo ao cento da cidade para entregar no laboratório material para exame de fezes e urina. Estava tudo elegantemente bem embalado e entocado na sacolinha da Hstern. Desta vez os espertos ficaram de olé. Nem tudo que parece, é. As aparências enganam. Esses maus feitores tiveram o que bem merecem. Materiais fecais. Merda.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 16/09/2010
Reeditado em 22/04/2020
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