O menino que proibiram de comer banana

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!”

Olavo Bilac, em “Via Láctea”

Havia prazer de descoberta na expressão do menino, descoberta do proibido que se lhe mostrou gostoso. “Ele não come banana”, espantou-se a mãe, com olhos de reprimenda. Não bastou, ele continuou saboreando a fruta e, lentamente, buscou sair do raio do olhar da mãe. “Põe ali na pia, filho, você não come banana.” Insuficiente ainda: as mordidas continuaram. Mesmo pequeno, deve ter adivinhado o desespero da ordem da mãe; na próxima tentativa (“Deixe, filho, você não come banana.”), possivelmente por já conhecer a tradução por trás das palavras, desistiu e depositou o que restava em cima da mesa.

Banana, salada e mais um rol de comidas, “não come”. Por incrível coincidência, o pai e o tio também não comem uma infinidade de produtos. “Fazem mal”, de acordo com a zelosa vovozinha.

O vento ainda não ousou brincar com seus cabelos, nem lhe ensinou a fechar um pouco os olhos para se proteger do pó levantado, nem lhe contou do caminho do pólen em suas asas ou da curta jornada das folhas até que se tornem tapete e, depois, chão. É emissário de doenças, diz a mãe.

Pingos de chuva são mantidos longe de seu corpo porque representam perigo escondido em cada gota de vida que cai do céu. Nunca andou na chuva. Não sabe do carinho de mãe num banho quente depois da chuva fria, nem do heroísmo nas histórias de tempestades que contam as crianças recostadas no colo das mães depois desse banho.

Para ele, as estrelas são mudas e não há qualquer artista que as dispõe em figuras para ser adivinhadas pelas crianças, em conversas noturnas com o pai. Noite foi feita para ficar abrigado.

Há uma palidez em sua pele que adivinha o medo do sol e da areia da praia e das pradarias, uma palidez que não merece.

Talvez um dia descubra que nem todas as avós são sábias, que mãe e pai, quando acreditam proteger, desprotegem para a vida e que se há comida, vento, chuva, noite, dia, sol há, também, pecado em não aproveitá-los. Talvez não, e continue pálido.