Tempestade

Um dia alguém disse que ele tinha belos olhos.

Era um dia desses em que São Paulo some debaixo da tempestade, disseram que seus olhos tinham a cor da tempestade.

Sempre pareceram tristes e tempestades são belas, impõe sua força, diminuem a raiva e a empáfia da metrópole, subjugando- a ao caos.

Nesse dia comeram juntos o pão que o diabo amassou e beberam seu vinho em quintas antes submersas nos becos escuros.

Ele até franziu os belos olhos ensaiando sorrisos e ela, bom, ela nunca lhe deixou a sincera visão do seu pensamento. Com o tempo ele a conheceu melhor que todo mundo, mas os destinos foram seladas naquele dia, de olhos e cores de tempestade, de pãos e de vinhos.

Num futuro distante aqueles olhos derramaram água e tinham sim cor de tempestade e o sorriso enrijeceu e secou em anos sem sol, uma pena se mostrar insensata, insensível diante daquele gigante horizonte castanho, tomado de furia inocente.

E vinho perdeu seu sabor…