E agora?

O céu tinha se fechado. Agora aberto estão os corações nos campos à deriva. Do céu desciam em velocidade com coragem, beleza, e certo grau de violência as gotas prateadas que se despendiam de nuvens enraivecidas, entre as luzes dos raios que entrecortavam os céus.

As suas calças estavam encharcadas, pesadas, assim como suas longas botas já enlameadas. Nas mãos, o buquê de flores que foi construindo ao longo da estrada, nos campos, no alto das montanhas, nos vales.

Agora queria chegar ao mar, o som macio das ondas, as estrelas refletidas no mar que não tem tamanho atiçavam sua imaginação. Precisava navegar sobre o placido remanso da suas próprias idéias, invariavelmente particulares, mas não privadas, antes providas: de lealdade à causa.

Foram anos de alegria os que conheceu junto àquela tribo de lunáticos fantasticamente apaixonantes. Ele fôra parte daquela tribo. Jamais se esqueceria. Várias foram as ocasiões em que puderam demonstrar sua amizade, nunca percebera nenhuma hesitação ao fazê-las. Eram agora pássaros em debandada, buscando ir até onde suas asas pudessem levá-lo, testando o limite, buscando um lugar para aninhar as entranhas e os sentimentos, procurando novas aventuras. Olhando o infinito do céu e rindo.

A tempestade havia se acabado, e junto com ela o frio na barriga que dá atravessar locais em turbulência. Depois da chuva, assistir o nascimento de todas as rosas, orquídeas e jasmins, que emprestam carinhosamente o seu perfume ao mundo.

A casa, o lugar para onde sempre ia, mesmo que em pensamento, e onde agora já não cabiam as pernas, que tinham crescido demais - desejava abraçar o mundo com elas.

Foi quando se pôs a caminhar. Amava cada um que se encontrava ali com todas as suas forças, o que o permitiu compreender que eles entenderiam sua partida.

O mundo, aquele lugar cruel de contradições e hipocrisias, agora parecia uma suave festa onde cada um tentava dançar de modo mais contagiante. A vida era uma dança, às vezes é preciso sair do ritmo e voltar, quantas vezes for preciso. Não existe contradição maior que tentar viver, não existe causa melhor do que a própria vida. Assim é preciso acreditar nas pessoas, acreditar que de alguma forma a energia que por hora nos perpassa pode se espalhar pelo mundo. Imaginar que podemos fazer as pessoas perceberem que são melhores do que julgam a maioria das pessoas.

A maior felicidade do mundo é superar um grande desafio, desafiar um tubo de uma onda pesada, e estar lá de pé quando ela quebrar. Não há motivos para não amar, não há razão para sofrer. A aventura da vida era a causa daqueles sorrisos, que necessitavam ser disseminados, assim como o Sol.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 18/09/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2506066
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