QUANTO CUSTA OU, QUANTO VALE?

Quanto custa ou, quanto vale?

Para muitos esta pergunta pode significar a mesma coisa, o valor de um produto, de uma amizade, ou mesmo até de um amor. Mas na verdade, quanto custa é uma coisa,e quanto vale, é outra bem diferente! Entretanto, poucas vezes nos deixamos levar para o raciocínio lógico disto.

Recordo que uma certa vez, no interior de Minas, acabei tirando um ligamento do cotovelo esquerdo do lugar numa dessas peladas de fim de semana. Doía demais e estávamos em uma fazenda, a quase quarenta quilômetros da sede do município. Entre o me levam ou não para a cidade, apareceu um lá que disse que o meu caso, era para dona Tiana. E foi!

Foi duplamente, porque aprendi naquele dia uma receita contra luxações fortes e uma outra para avaliações na vida.

Para nossa coluna não vai importar como ela fez aquela compressa que acabou me curando da luxação, tanto que duas horas depois nada mais sentia.

Achei que era minha obrigação perguntar aquela senhora negra já de cabeça branca, e por isso mesmo, já batendo depois dos oitenta, quanto lhe devia.

“Meu fio...quanto custa é uma coisa, mas quanto vale é outra! Se fosse lhe cobrar o quanto custa, iria dar risada porque o valor não tem a mínima graça. Agora, se quer saber o quanto vale, não esqueça nunca dessa “nêga véia!”

Nunca mais esqueci!

Tanto que lembrei dessa hoje, quando sentei para escrever a coluna e não tinha a mínima idéia, de sobre ou do que iria escrever!

De repente, lembrei da dona Tiana, e resolvi aproveitar o quanto custa e o quanto vale dela.

Até porque, quase dois anos depois dessa pelada de fim de semana, aconteceu na mesma fazenda um casamento para o qual fora convidado. E como sempre desligado para tais coisas, esqueci de comprar o presente para os noivos! Mas por outro lado, comprei o da dona Tiana!

Ela gostava de tomar uma cachacinha de alambique em uma canequinha esmaltada. Custei a achar a danada, branca com a asa e a boca em preto, igualzinha a velha que vira na casinha dela. A cachaça e da boa, vermelhinha como ela gostava, foi mais fácil! Só encomendar de um dono de alambique na cidade.

No dia da entrega, vi nos seus olhos um brilho de carinho, abriu garrafa, serviu uma canequinha cheia, tomou um gole, estalou a língua, e me disse com os olhos cansados brilhando na sombra da cozinha: “Eu sei o quanto vale, e por isso quero dividir com “ocê”.”

E dividimos aquela canequinha da vermelhinha, até o último gole! Confesso que só o primeiro desceu queimando, os outros, suaves, com gosto de amizade, carinho e cumplicidade, divididos.

É dona Tiana! Aprendi duas vezes, o quanto custa e o quanto vale!

Esta crônicas faz parte do Livro Fala Sério! a venda pelo email ajrs010@gmail.com