Sobre a Mentira e a Verdade

O nosso coração é mal desde a tenra idade, segundo a Bíblia. Levando para o lado psicológico da coisa: uma mãe vivia preocupada com o filho, porque quando ela o colocava no berço e ele não queria, ele tampava a respiração até ficar muito vermelho e roxo. A mãe o pegava no colo pensando que ele fosse se matar e começava a balançá-lo. Ele soltava a respiração e logo voltava ser o menino rosado de sempre, porque sabia que a mãe iria tirá-lo do berço tão-logo fizesse isso.

- Seu filho está te manipulando. Disse o psicólogo.

- Mas como? Ele só tem seis meses de vida. Como que ele pode me manipular?

- Ele sabe que você vai pegá-lo no colo quando prender a respiração, por isso que ele faz isso. Você vai fazer o seguinte quando ele começar a chorar e tampar a respiração: dê uma tapa na popança dele bem dada e vire-o para o outro lado do berço e não dê atenção para ele.

Quando o filho começou a prender a respiração, ela fez como o psicólogo tinha dito mesmo com o coração partido. O filho ficou vermelho, vermelho e começou a chorar, soltando de vez a respiração e logo parou com aquela manipulação.

SP Funk diz o seguinte em uma canção: “falo a verdade, nada me impede já que a mentira tem pernas curtas que nem o Nelson Ned”. Ou seja, ele sabe que cedo ou tarde a mentira vem à tona e que os danos causados por ela podem ser muito graves. Então, prefere dizer a verdade. Há uma questão de escolha aí, porque “se nada me impede” é fácil falar a verdade. Mas, segundo São Tiago “a língua é um pequeno membro que não se pode controlar e que inflama todo o corpo”. Ao olhar para o seu emprego que vai para o brejo se dizer a verdade, a mentira torna-se uma forma de escape; ao ver que seu relacionamento está por um fio, dá-se mais vazão para a mentira e levamos a omissão como se não fosse mentira. Quem irá revelar uma traição?

Então, muita coisa pode impedir sim alguém de contar a verdade. Contando a verdade pode-se perder muito, em nosso plano físico e maneira de pensar, porque não vemos que a verdade é a luz que brilha nas trevas.

Daniel Mastral em uma de suas palestras disse: eu estava em um emprego e dava testemunho (porque ele é evangélico). Todo mundo está de olho em nós. A firma não tinha o certificado do ISO 9001. E o gerente disse que o fiscal viria. O caderno do ISO 9001 e que continha as leis? Tinha sumido. “Olha, vocês têm que dizer que estamos cumprindo a lei corretamente. E quem falar que não estamos cumprindo-a vai ser demitido”, meu chefe disse. E todo mundo disse: “quero ver se ele dirá dizer a verdade” – apontando para mim. Eu contei a verdade para o fiscal. Meu chefe me chamou na sala dele e falou um monte. Saí de lá com as orelhas vermelhas e aguentei muita gozação da parte dos meus amigos de serviço. Depois do almoço meu chefe me chamou e eu pensei que ele fosse me demitir. “Você fez muito bem em ter contado a verdade, dizendo que não tínhamos o livro e que o queríamos para melhorar nossos préstimos. O fiscal nos elogiou por essa atitude.”

Quanto custa uma verdade? Vale a pena a sombra da dúvida ou a sombra da enganação? Estar em estado de cegueira serve de chacota para os outros. Quem é corno é o último a saber, mas as pessoas não zombam dele só pelo fato de ele ser corno, mas pelo fato de ele ser trouxa, porque está sendo enganado e não conhece a verdade, ou seja, está na escuridão, mesmo que isso seja remoto no subconsciente de cada um.

Tem um ditado que diz o seguinte: fale a verdade hoje para não ter que se lembrar do que disse ontem. Lembrar-se do que disse a um ano atrás, dois, três... e quanto mais o tempo passa, mais difícil fica, pois todo aquele que mente não consegue sustentar a mentira a vida toda. As contradições vêm; por que a verdade é como a luz na escuridão. Uma pessoa que está na dúvida não tem a certeza. Tão-logo não conhece a luz da verdade. A verdade não é meia luz e a verdade do cético não é a verdade do crédulo. Os olhos de ambos veem suas verdades e creem nelas, mas não quero falar de crença e sim sobre a verdade e a mentira.

“Vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai: ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” (São João 8.44)

Vemos que quem mente é filho do diabo. Mas também sabemos que muitos não acreditam no diabo. Texto por texto fiquemos com a parte que diz “pai da mentira”. Eva foi enganada pelo diabo e levou o engano até Adão. A Bíblia diz sobre “as astutas ciladas do diabo”. Vemos que não é uma armadilha qualquer. Não. É uma armadilha bem elaborada. Ele sabia muito bem que a mulher era mais fraca que o homem e atentou Eva primeiramente, porque tinha certeza de que minaria a força de Adão e elevaria seu engodo com perfeição, tornando-se verdade uma mentira (no coração de Adão e Eva) dita astutamente.

Na tenra idade Jacó quis roubar a primogenitura do próprio irmão, segurando o calcanhar dele quando nasceram, pois Esaú saiu primeiro do ventre de Rebeca (eles eram gêmeos). Depois enganou Esaú com um prato de lentilha. Como se não bastasse valeria muito enganar o próprio pai, Isaque que já era cego. Esaú era parrudo e ele não. Então, Jacó pegou a pele de um animal e se cobriu com ela para fazer a mentira parecer ser verdade. Lembremos que o nome Jacó significa enganador, suplantador.

Meu pai, quando ainda era garoto de três anos tropeçou e caiu. Quando se levantou disse como se fosse a mais pura verdade:

- Ai! Chega peidei.

Hoje, ele diz com toda clareza:

- Mentira! Nem tinha doído. Só falei para me sentir “mais”.

O homem tem necessidade de se sentir mais. Jacó não aceitava a condição de segundo, e por toda força e inteligência que tinha enganou o irmão e o pai para ser maior. O político engana, sorri abertamente para as vítimas de seu dolo e sugere obras faraônicas para compensar as mentiras escondidas por debaixo dos panos como se ela fosse verdade. Seria um vício humano?

Quem trai engana, mas é mais vergonhoso para o traído do que para o enganador. O enganador sempre sai como o mais inteligente. Vemos tudo pelo prisma mentiroso que ofusca a luz da verdade. Acostumamo-nos com a ficção e precisamos dela porque não aguentamos a verdade do dia-a-dia. Porque agora a desonra está na verdade e a sabedoria está na mentira.

A verdade dói. Será verdade mesmo este ditado? Todo mundo procura a verdade, mas não a aceita. Será que a verdade é indelicada?

Consta na ética de muitos que o perdão é para os fracos e que quem perdoa é trouxa, mas a verdade é que o homem tem que ter o coração muito nobre para perdoar. Assim também é para com a verdade. Consta na ética de muitos que a mentira é boa e que a verdade é ruim. Será ruim mesmo? Ou será que a sujeira do coração humano é tão vergonhosa que ele procura escondê-la de todas as formas com a mentira, tornada em verdade para ele mesmo, desde a tenra idade?

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 19/09/2010
Reeditado em 23/09/2010
Código do texto: T2508513
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