Insônia

Mais uma noite sem pregar os olhos. Levanto, procuro ajuda em versos perdidos, em palavras que consolem, em livros que me abracem. Um pouco de atenção, eu peço. O silêncio me conforta, quando grito por dentro e me calo entre tanta solidão.

Remexo em gavetas, em bagunças do passado, rasgo papéis e lembranças. Jogo fora o que, um dia, me trouxe dor. Visto meus demônios, choro sem ser ouvida e sem que outros se compadeçam. Não quero pena. De compaixão, já basta a minha.

As idéias se confrontam dentro de mim. Falo sozinha, como alguns costumam dizer. Na verdade, converso muito comigo mesma. Discuto, negocio, mas nunca chego num consenso. E não me compreendo mais. Perco-me dentro de mim e não sei onde fui parar.

Tento me encontrar de alguma forma. Entre mãos trêmulas e ombros pesados, descarrego raiva e angústia. Escrevo sem parar. Sem poder parar. Conto meus medos, minhas aflições e meus maiores segredos. Não me repreendo mais. Sinto-me livre como um pássaro. A dor que tanto me atormentava, adormece sobre frases, tinta e papel.

Não há nada mais que possa ser dito. Meu mundo se colore aos poucos. Volto a ser quem eu era. De fato, quem eu nunca fui. Assino os documentos que me condenam e me revelam. Escrevi minha própria sentença. E não me arrependo, passei tempo presa demais.

Volto a dormir. As noites sem sono agora me permitem que descanse sem nenhum peso na consciência.

pann
Enviado por pann em 28/09/2006
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