AMORAS & POESIA



Uma vez mais as amoras enfeitam meu quintal.Entre o verde das folhas,pendem os galhos em rubro negro na mistura das frutas semi maduras,as vermelhas,e aquelas amadurecidas ,numa cor preto acetinado.
A festa tem ficado por conta dos pássaros que descobriram a fartura ao seu dispor e da Polaca em suas incursões diárias debaixo das árvores colhendo a matéria prima de suas geléias preparadas com muito carinho e endereçadas aos nossos amigos que já cultivam o hábito de aguardar um potinho da famosa geléia da "dona Nena",que a exemplo da canção é feita com "açúcar e com afeto".
A produção é quase tôda distribuída à título de "agradinhos",até porque cá em casa,apesar de deliciosa,consumimos muito pouco.
Mas,nem só passarinhos e doceira sentem-se atraídos pelas amoreiras.Poetisas também, e vou-lhes explicar o porquê:
Eram tres horas da tarde e eu fazia o meu lanche.Alguém chama por mim no portão dos fundos.
Saio para atender e deparo-me com Dorothéa e Nayade,duas talentosas escritoras iratienses.A primeira,mestra em haicai,detentora de inúmeros prêmios à nível nacional.Espera por mim,enquanto gesticula uma contagem nos dedos das mãos.
Assim que me aproximo,antes que entremos no assunto que lhe trouxe à minha casa,a sua primeira reação é enaltecer a beleza de uma das amoreiras no final da calçada,à qual ela conta nos dedos as sílabas do haicai que criou naquêle instante.E foram uns três ou quatro,não me recordo exatamente,mas eram mais ou menos assim:
"Na paz de um céu das tres horas
passarinhos comendo amoras"

"Escorrem na tarde fagueira
os frutos da amoreira"

"Amoreira carregada
banquete da passarada"

E foi por aí à fora.Dentro do carro,Nayade,escritora e poetisa de muito talento,tece alguns comentários sobre a árvore frutífera...Textos advirão,com certeza.Trocamos algumas idéias rapidamente e assim que ambas tomaram seu caminho
fiquei a meditar no portão: Ah!... Estas amoreiras mágicas!...Cobiçadas por doceira,passarinhos,escritora e poetisa...Quem será o proximo a enamorar-se de vocês?
Sobre a grama,enciúmada,a cerejeira deixa cair os seus primeiros frutos,como a dizer:"Quero igualmente ser enaltecida,afinal,também faço parte desta festa!"