O nascimento da língua portuguesa I

Ao oeste da península Ibérica, uma pequena e pacata aldeia guardava a rotina de seus adoráveis moradores. Humildes camponeses que a partir da lavoura e da criação de animais retiravam os suprimentos necessários a sua subsistência.

Neste dia, entretanto, algumas crianças que haviam subido o morro próximo à vila para inventar alguma brincadeira, como faziam de costume para ocupar suas jovens cabecinhas e, interagindo em grupo, estimular suas aptidões para a vida em sociedade, viram algo completamente diferente do que viam de costume. As mais novas, como acontece geralmente, agiram com certa naturalidade ao verem marchando, ao longe, o grande número de homens vestidos em armaduras prateadas e empunhando bandeiras gigantes sobre suas cabeças - mesmo que não soubessem o que eram armaduras, e nunca tivessem visto antes bandeiras tão grandes, ou sequer bandeira alguma. Acreditavam as crianças menores que aquele acontecimento se dava, de modo inexplicável e de alguma maneira, em função delas, ou de algo que elas teriam feito, como é comum da idade.

As mais velhas, todavia, tentaram rápida e desesperadamente descer o morro para contar aos seus pais o que acontecia. Mas antes que pudessem descer o morro foram capturadas por alguns soldados que já haviam alcançado o vilarejo. Quando desceram tiveram a incrível e desagradável percepção de que toda a sua aldeia já havia sido capturada, de fato, por aqueles homens.

Conheceram, infelizmente, de perto, o desespero da guerra. Eram os romanos que conquistando os povos vizinhos idealizavam a expansão do seu império. Era início do séc. III a.C.

A influência da língua românica chegava ao oeste e noroeste da Península Ibérica (região dos povos lusitanos e galaicos), uma das regiões que mais ofereceu resistência pelos seus habitantes aos romanos. Era um dos primeiros e mais notáveis momentos da formação da língua que um dia, nós conheceríamos como português, e tomaríamos como língua materna, como mãe de nossas experiências e da capacidade de expressão de nossos sentimentos e desejos.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 30/09/2010
Reeditado em 02/10/2010
Código do texto: T2528887
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