As cores do Círio de Nazaré

 
 
Círio de Nazaré tem a infinidade das cores. Assim como tem a diversidade do que é particular, plural na singularidade.
Vejamos, poderia começar citando as cores de um ícone a parte: A Berlinda, toda ornada de flores e folhagens, a cada ano nos surpreende com matizes, ora em tons lilases, ora nos amarelos, alguns anos entre os rosas e branco. Tais cores são cuidadosamente escolhidas pensando, por exemplo, na inspiração do fotógrafo que criou o Cartaz Anual do Círio, relacionando com as cores do manto oficial que recobre a imagem, tudo em uma perfeita harmonia. Cores de flores, pedrarias, contas, fios de ouro e prata, ricos detalhes que contam sempre uma história.
O Círio também tem a cor vibrante e provocante do brilho das festas profanas, o Auto do Círio, por exemplo, que se tornou Patrimônio Imaterial da Humanidade, e que sai em cortejo pelas ruas da cidade velha na noite da sexta que antecede o Círio, é um evento de intensas cores e luzes, vez que remete ao carnaval, com alegorias e os atores todos montados em personagens bastante peculiares, um evento teatral que une emoção, fé, carnaval, arte. Brilho e fantasias na noite de sexta-feira.
E a Feira do Miriti? Uma grande exposição de artistas e artesãos da cidade de Abaetetuba-Pa que chegam a Belém para apresentar seus trabalhos feitos em Miriti, uma espécie de fibra muito leve de palmeira também chamada de Buriti, comum na Amazônia. As criações são espetaculares, brinquedos tradicionais e modernos, artefatos para decoração, telas, bijuterias, tudo muito colorido, um alegrar aos olhos.
O Círio tem a cor amarela do tucupi que serve junto com o pato um prato típico da data, o mesmo tucupi do tacacá, tudo entremeado com o verde do jambu que compõe tais iguarias. Tem também a cor escura, de folhas moídas e cozidas ao extremo, de tom escuro, quase preto, da maniçoba, que partilha com o pato no tucupi, lugar garantido a mesa deste domingo especial.
Tem cor de vibrações, de energia, de multidão que caminha, de um povo que pelas ruas de Belém faz um imenso, gigantesco aglomerado humano, caloroso como é o clima daqui, e a cena se compara a um tapete vivo, colorido, diverso, as cores da alma de cada um materializada em um momento de fé.
Têm cor de casa cheia, família reunida, as cores das blusas diversas criadas com a imagem da Virgem de Nazaré. Cores dos leques de papel distribuídos ao longo dos cortejos religiosos, com a imagem da peregrina e letras das canções tradicionais cantadas nos percursos.
Cor de água, tantos copos e garrafinhas, centenas, milhares que são distribuídos aos romeiros no percurso, pelos promesseiros, água que são jogadas no chão para aliviar a dor dos pés daqueles que vão descalços na corda, água que alivia o calor, o cansaço e mistura-se ao suor, as lágrimas de cada um. Água: cor que banha e sacia a sede de vida.
Depois do almoço as cores dos cremes e sorvetes de frutas típicas e exóticas daqui. Amarelo do muruci, roxo do açaí, branco da tapioca, o leve tom amarelado das polpas de bacuri e cupuaçu e tantas mais.
Círio de cor alva do branco das asas dos anjinhos do Carro de Anjos, cheio de criançinhas vestidas assim e pagando as promessas feitas pelos pais, cor das vestimentas brancas, rosas e azuis suaves dos pequenos promesseiros.
Tem cor de cera, das velas, dos círios propriamente ditos, de inúmeras partes de corpo humano feitas em cera, que enchem o Carro dos Milagres. Cor de agradecimento.
E a cor da gratidão? Esta vem em diversas faces, nas pequenas casas de madeira, isopor, carregadas por quem mereceu a habitação, dos barcos caprichados, cor de tijolos carregados, cor de promessas, tantas, infinitas graças alcançadas.
Círio tem cor de Arraial, um parque cheio de brinquedos, feiras, barraquinhas de comidas típicas, um lugar onde as famílias, os namorados passeiam durante a festividade. Cor de roda gigante, de trem fantasma, de cavalinho.
E a cor da tentação? Cor da “maçã do amor”, encarnada e lustrosa pela calda de açúcar, umas com confeites coloridos, outras puramente vermelhas.
Cores de luzes da Basílica Santuário que recebe uma iluminação especial para o evento, e fica mais bela.
Cores das ruas de Belém, das casas enfeitadas por onde passa o cortejo, das residências que competem por votos para ser o melhor jardim decorado para o Círio, dos órgãos e empresas que também se ornam para homenagear a Santa. Cores de Belém toda linda, enfeitada, toda prosa porque via ter um encontro especial com sua protetora.
E para concluir tantas cores, as cores do Sol intenso e forte que faz sempre no dia do Círio, as faces queimadas dos promesseiros, cor de calor, de cansaço, de olhos postos e agradecidos na virgem mãe, cor de lágrima que não cessa cor dos terços presos às mãos dos romeiros, cor de sensação de prazer pelo feito, cor de felicidade por ter estado tão perto dela. Tão mãe de todos.
Tantas cores, misto de emoções, de vida, de amor, de fé.
Cores do Círio de Nazaré.


 
 
 
 
 
 
                       
Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 01/10/2010
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