Pensando sobre a (o) política (o)

Hoje por volta das 13h40 fui almoçar aqui perto de casa. Coloquei uma roupa diferente. Uma saia longa meio rodada de cor preta, blusa roxa e sandália de salto alto da mesma cor da blusa. Olhei pro espelho e decidi que estava chique, mesmo que não estivesse. Decidi assim. Soltei os cabelos. A única maquiagem que uso, o batom, resolvi deixar de lado desta vez. Se existe algo natural, estava eu. Só não mais porque vestia uma roupa. Traje discretíssimo e alma ousada. Estava bonita. Isso não tem nada a ver com o que vou dizer agora. O assunto é política. Pois é. Entrei no Laffaiete e deparei-me com um conhecido que foi motorista quando eu trabalhava na Secretária da Educação. Ele tinha vários livros nas mãos. Achei estranho tantos livros naquele lugar onde se come comida e não letras. Curiosa como sou, primeiro o cumprimentei e em seguida perguntei. -Que livros são esses? Posso dar uma olhada? Ele disse: - É do Saulo, ele que escreveu, vamos lá falar com ele? (Saulo foi candidato a prefeito e segue uma linha política diferente da minha, é candidato a deputado estadual). Folheei o livro e falei que estava com pressa. Mais uma vez ele insistiu dizendo que Saulo estava distribuindo os livros. O assunto era trabalho, emprego e renda. Fui cumprimentá-lo meio a contragosto, mas fui. Vai que o homem ganha e me representa na Assembleia? A gente tem que saber quem é. Como manda o jeito praxe de político, ele olhou bem nos meus olhos e apertou firme minha mão. Em seguida me deu um exemplar do livro. Perguntei qual o foco do trabalho que ele aborda no livro e ele disse que era o histórico. Achei interessante. Essa leitura pode me servir para alguma coisa. Tudo bem. Fui me servir. Quando já tinha escolhido o que iria comer decidi em qual mesa me sentaria. Como estava sozinha, escolhi uma que tinha dois lugares. Certo. Cinco minutos depois, sentaram perto de mim, na mesa ao lado, o tal do Saulo, o motorista e mais uns três rapazes. O candidato sentou do meu lado. Fiquei pensando se as meninas que trabalharam comigo me vissem ali. Iam pensar que eu estava fazendo campanha pro homem e que tinha virado a casaca. Veja. Mas que se dane. Ele perguntou onde morava, com quem morava e o que eu fazia. Curioso né? Educada respondi, mas se ele é candidato ele que tem que ser interrogado e não eu. Perguntei sobre os possíveis deputados estaduais que teremos em nossa região. Ele deu a lista e falou que está com boas chances de ganhar. Que o candidato forte que compete é bem bacana. Achei estranho ele elogiar a oposição, mas tudo bem. Perguntei sobre seus planos na educação e ele deu um histórico completo desde a Constituição de 1988. Falou que seu foco é a juventude: ensino profissionalizante. Ele colocou a educação naquele pódio que todo político coloca: no primeiro lugar, mas que na realidade, assim como a saúde está sempre nos últimos. Fiquei reparando o modo como ele lidava com cada uma das pessoas que iam cumprimentá-lo e desejar boa sorte nas urnas amanhã. Pois é. Eles terminaram o almoço e saíram. O motorista pediu algo que não aprovo. ‘–Isabel, dá uma força pro meu padrinho amanhã!’ Padrinho? Credo! Deixei claro pro moço que não é tão simples ganhar um voto meu. E ele cometeu um erro pior que o primeiro. '– Faça isso pela nossa amizade!' Amizade? A coca-cola deve ter feito mal pra ele. Terminei de almoçar e fui pagar. Na frente do Laffaiete o motorista e os rapazes entregavam um jornal. Eles copiaram o mesmo slogan do Jornal mais importante do ABC, querendo passar a impressão que a pesquisa que aponta Saulo como o preferido era do tal jornal. Comentei isso com o motorista e ele disse: ‘-É, não tem como te enganar mesmo né?’ Puxa! Enganar? É assim mesmo que tem que ser? Enganar? Fiquei pensando em quantas artimanhas esses políticos não são capazes de fazer para ganhar voto. Não achei nada de tão grave no Saulo, mas as pessoas que trabalham pra ele devem ser mais cuidadosas. Acho que devem passar por um processo de formação antes. Já escolhi meus seis candidatos. Fui em debates ao vivo e acompanho a vida pregressa deles. Ganham meu voto porque acho que merecem. Mais que votar branco ou nulo escolho alguém pra me representar. Mais que reclamar da política eu cobro. Não suporto ficar só ouvindo gente falar mal, falar mal, mas não se candidata. Se tem carência de gente séria, que se candidate então, oras! Até ontem estava em dúvida somente em relação ao Deputado Estadual. Saulo chegou tarde, mas sou detalhista demais, as bolas fora do motorista, tirou a possibilidade dele ter meu voto.

Isabel Cristina Rodrigues
Enviado por Isabel Cristina Rodrigues em 02/10/2010
Reeditado em 05/01/2012
Código do texto: T2533949
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