O nascimento da língua portuguesa II

A língua românica, que encontra sua essência no latim, alcançava pontos distantes do território europeu, emprestava sua forma de pensar a partir da sua particular estruturação dos elementos linguísticos. Na Península Ibéria também não havia sido diferente.

Contudo, a história não poupou a esse povo a experiência das invasões. Em verdade, um olhar para o nosso repertório histórico nos ensina que esses momentos de tensão e conflitos não foram privilégio de determinado período, povo ou região. Como criança que engatinha para depois caminhar, antes de ser capaz de racionalizar modalidades diplomáticas de se relacionar, a guerra, a barbárie, e as invasões, foram preferidas pela humanidade em contextos de interação entre povos. É possível que nos dias atuais seja uma forma de pensamento que necessita já ser ultrapassada.

A Península conheceu ainda a invasão dos povos germânicos, em diversos momentos e com diversidade de influências linguísticas, em 409 d.C foi a vez dos alanos, vândalos e suevos. Em 416, dos visigodos.

Efetivamente, a experiência particular daqueles indivíduos que viveram estes momentos apropriadamente considerados tristes pode, em parte, vir a ter influência sobre a construção da língua, da formulação em suas estruturas, tendo em vista a íntima relação entre pensamento e linguagem, a existência das palavras e a necessidade de se expressar. Entretanto, que seja uma equação de difícil mensuração, numa visão macro desse processo, fato é que essas experiências foram determinantes na consolidação do conjunto de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm à sua disposição para expressar-se, o aspecto léxico da linguagem; e também, em relação à onomástica: das origens e dos processos de denominação no âmbito de uma ou mais línguas ou dialectos.

Consumiam-se os espíritos, consumavam-se as novas possibilidades de percepção da vida, do mundo, e da capacidade de dizê-las.